Ao ouvir o mantra e contemplar
aquelas pessoas exteriormente ornamentadas com motivos afros e internamente
carregando o legado da raça negra, com um misto de orgulho e sofrimento
passados de geração em geração, não pude deixar de pensar no livro que acabei
de ler. ”Kindred, laços de sangue”, de Octavia E. Butler (*). Enredo que nos
dilacera a alma, não é apenas simples ficção, imaginada, inventada, é retrato
da história acontecida no mundo todo em variadas épocas. É ferida que ainda dói
nos dias de hoje.
Aqueles que não concordam com o
dia da Consciência Negra talvez não saibam quais são essas dores que esse povo
carrega. A dor da escravidão, da submissão, da humilhação, da mutilação, da
tortura física e psicológica, da segregação. Atualmente a dor da discriminação,
da falta de oportunidades escancarada nas pesquisas, nos índices de mortes por
bala perdida, ou por bala encontrada, da predominância da cor branca nas mais
altas esferas do poder, nas faculdades, nas empresas, nas profissões de
destaque e em contrapartida da gritante e extravagante preponderância do negro
nas favelas, nas prisões, nos assassinatos, nas abordagens policiais.
Sim, é preciso ter consciência, é
preciso ter vergonha desse cenário, é preciso que todos carreguem essa mesma
dor e que cantem e toquem o mesmo tambor.
(*) Livro de ficção em que uma jovem negra do século XX passa
a fazer viagens no tempo ao século XIX e a reviver a escravidão e os dilemas
raciais de ontem e de hoje.
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