“Vocês não têm salvação. É muita cachaça e nada de oração”. A frase, dita em tom de brincadeira pelo Papa Francisco a um padre brasileiro que lhe pediu oração, repercutiu nas redes, recebendo muitas críticas e também certo volume de apoio.
Antes de ser papa, Francisco é um ser humano, passível de erros. Sua origem argentina também o credencia para zoar do povo
brasileiro, prática comum a ambos os lados de países que rivalizam em vários
aspectos, sendo o futebol um dos principais. Era pra ser uma frase engraçada,
uma piada, de mau gosto talvez, mas uma piada. A questão é que quando sai da
boca do chefe supremo da Igreja Católica, diante das atentas lentes do mundo
todo, ganha uma proporção de grandeza exponencial. Afinal, Jesus Cristo, pedra
fundamental da religião, sempre pregou que a salvação está ao alcance de todos,
desde que se arrependam verdadeiramente de seus pecados. Inúmeros trechos do
Evangelho confirmam esse ensinamento, com partes que evidenciam o encontro do
filho de Deus com cobradores de impostos e prostitutas, estes considerados os
maiores pecadores da época. Há instantes de sua morte, crucificado, Jesus ainda
teria dito a um dos ladrões que estavam ao seu lado que entraria com ele no
Paraíso.
A partir de uma breve passada de olhos por comentários
surgidos depois da divulgação desse fato nas redes sociais, pode-se constatar
um pouco de tudo. Há os que não desperdiçaram a oportunidade para traduzir as
palavras do pontífice como uma alusão aos supostos hábitos etílicos de um
ex-presidente em contrapartida às palavras bíblicas repetidas constantemente
pelo atual líder do país. Foi um prato cheio para os cegos da atualidade, que
enxergam de forma multiplamente distorcida, na figura dos dois, a dualidade
entre o Bem e o Mal. Tanto de um lado como de outro se lê insanidades. Houve
também quem simplesmente concordasse com o Santo Padre, levando muito a sério
sua constatação.
Otimista de carteirinha, acredito que assim como a
maioria das pessoas no mundo, seja sob qual for o ângulo de análise, os
brasileiros vivem um processo de aprendizado. Estamos aprendendo a duras penas,
o custo de apostar nossas fichas, no caso nosso voto mesmo, em figuras milagreiras.
Mitos salvadores da pátria, que segundo o papa nem tem salvação. Mas como eu já
disse, minha opinião é a de que tem sim. Ela virá com o tempo, na medida em que
o povo comece a entender que não se trata apenas de colocar alguém no poder e
deixá-lo lá com um cheque em branco, ou pra usar algo mais atual, com um cartão
de crédito coorporativo ilimitado.
Além de usar critérios adequados para a escolha de seus representantes,
bem diferentes daqueles que se usa para escolher um time para torcer, que se
faça uso das ferramentas de controle existentes de acordo com as leis que regem
nosso país. Que exijamos nossos direitos, que deixemos claros nossos anseios e nossas
necessidades e que os cobremos constantemente para que haja rígida prestação de
contas.
Façamos uma caipirinha com nossa cachaça para que
possamos brindar com ela um futuro de sucesso para nosso amado país, quem sabe
até para nossos “hermanos” e para o mundo todo.
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