Para responder à pergunta do título, em primeiro lugar é necessário saber de que tipo de valor estamos falando. Existem inúmeros significados para a palavra “valor”, principalmente quando se trata de arte. Temos o valor monetário de mercado, mas também temos o valor sentimental, o valor cultural, o valor social, temos o valor da própria arte para o artista, levando-se em consideração o que ele recebe em troca, não em espécie, mas em crescimento pessoal. Certamente poderemos pensar em outros tantos diferentes tipos de valores atribuídos à arte entre os diversos indivíduos que estão de alguma forma em contato com ela.
Na sociedade atual, na maioria das vezes, o fazer arte acaba se tornando profissão também, uma atividade artística pode prover o sustento de um artista, ou não. Enquanto alguns produzem arte em suas horas vagas ou de lazer, outros o fazem no seu dia a dia, como atividade principal. O quanto cada artista recebe por seu trabalho varia muito e vai depender de sua projeção no mercado da arte no qual se especializou. Ser um bom artista não é garantia de uma boa remuneração e alguns que alcançam uma boa renda podem não ser necessariamente os melhores. Existe uma gama de fatores que irão garantir o sucesso, o fracasso ou simplesmente o anonimato de um artista. Um grandioso trabalho de marketing pode projetá-lo, levá-lo ao topo, torná-lo referência na sua categoria, valorizando suas obras, que podem ser ou não de qualidade, ainda admitindo-se que haja um critério adequado para classificá-las. A raridade ou o fato de ser única podem também tornar uma obra valiosa.
Para se atribuir um valor a um quadro, por exemplo, não basta quantificar o gasto de tempo do pintor somado ao custo da tela e das tintas que ele utilizou ao concebê-la. Nessa conta entraria também todo o valor de sua formação como artista, além de considerar o quanto de si ele conseguiu transferir para a obra, de quantas camadas de sensibilidade, sentimento ou experiência ela é composta. Toda essa complexibilidade faz com que esse valor seja praticamente imensurável. Ele pode ser descoberto até num futuro distante ao de sua produção. O maior exemplo disso é o das obras de Vincent Van Gogh, um pintor que não conseguiu vender um quadro em vida, mas que hoje, mais de 100 anos após sua morte, são avaliadas em milhões de euros.
Quando se pensa, portanto, no valor mercadológico da arte, vamos por esses caminhos extremamente tortuosos e variados. Mas a arte também tem um valor social, um valor formativo, um valor terapêutico tanto para quem produz arte como para quem a consome. Freud teria dito que “Só a neurose do artista é bela” significando que o homem poderia elaborar toda a sua problemática interior e transformá-la em arte. Há psiquiatras, como a Dr. Nise da Silveira, pioneira na terapia ocupacional, que estimulam a produção artística como forma de terapia. Talvez, refletir sobre a sanidade de cada autor tenha levado John Lennon a afirmar que se grandes artistas como Van Gogh, Gauguin etc. tivessem se submetido à psicanálise, não teriam produzido suas grandes obras de arte.
Em outra perspectiva, podemos dizer que haverá grande valor na arte quando ela tiver a capacidade de carregar algo que transforme. Ferreira Gullar disse “A arte existe porque a vida não basta”. O poder de representação da arte faz com que, muitas vezes, o que o artista diga com sua obra não seja apenas o que ele pensa, mas o que outros pensam. Ao contrário, o artista também pode estar falando de si mesmo, ao tentar expressar o pensamento do outro. Isso explica porque alguém pode se enxergar na arte do outro. A psicologia junguiana defende que o artista pode expressar em sua obra o que há em seu inconsciente mais profundo, inclusive com um caráter coletivo, que cada um traria dentro de si. Por isso a arte pode fazer com que alguém se sinta melhor quando entra em contato com ela, que se sinta representado por ela. O valor da arte está ligado a sua capacidade de dar significado à existência do ser humano. Esse significado que está dentro de nós, externamente não é facilmente encontrado. Citando novamente Ferreira Gullar, fazer arte seria construir-se de dentro para fora.
Dicas:
Filmes:
Moscou em Nova York
Nunca deixe de lembrar
O Último Vermeer
Moça com brinco de pérola
Tudo pela arte
Gauguin – Viagem ao Taiti
Música de Caetano Veloso – Desde que o Samba é Samba
Livros:
Argumentação contra a morte da arte – Ferreira Gullar
Torto Arado – Itamar Vieira Junior
O apanhador no campo de centeio – J D Salinger
Obs.: O texto contém um resumo do que foi discuto durante o XV Encontro de Escritores e Leitores realizado virtualmente pelo Google Meet em 10/02/2020, das 19h às 22h30.
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