Missão impossível essa de elencar
em poucas palavras o resultado de um encontro de autores e de amantes da
literatura, com duração de pouco mais de duas horas, diante de um tema tão complexo
como o que havia sido proposto no Segundo Encontro de Autores de Guarulhos. O
evento, realizado ontem à noite, dia 16 de agosto, no Espaço Novo Mundo, da
Livraria Nobel , tinha por objetivo discutir a “Liberdade de Expressão e
Crítica Social na literatura. Qual a responsabilidade do autor? “ Contou com a
mediação de César Magalhães Borges e com a participação de autores como José Alaercio
Zamuner, Rogério Brito, Guilhermina Helfstein dentre muitos outros.
Praticamente um consenso entre os
participantes é o de que vivemos em tempos de constante ameaça à liberdade de
expressão, bem como do retorno a algo semelhante à censura que o país vivenciou
no século passado. Tirando o fato de que vivemos uma democracia que ainda necessita
ser ampliada, reforçada, revigorada, em que, por exemplo, os acessos aos meios
de expressão de grande alcance são concedidos a grandes grupos empresariais, o
mais preocupante seria o fato da própria sociedade se autocensurar. “Nós nos
tornamos uma sociedade intolerante, com dificuldades de aceitar as expressões
de ideias com as quais não concordamos”, afirma César Borges. Mais
impressionante ainda seria o fato dessa censura ter se intensificado através da
Internet, que teoricamente deveria ampliar a possibilidade de acesso à liberdade
de expressão.
Foram lembrados grandes artistas,
possuidores de uma vida dedicada à arte, criadores de grandes obras, que passaram
a ser execrados por parte da sociedade diante de seu posicionamento político. Atualmente,
o cantor e compositor Chico Buarque seria um dos que personificaria esse fato. Outro
exemplo lembrado dentro da classe artística foi o da atriz Marília Pera, dona
de uma trajetória de inegável sucesso e grandioso talento, condenada por muitos
ao se posicionar a favor de Fernando Collor de Mello, ex-presidente que sofreu
impeachment na década de 90.
John Lennon teria tido um momento
em sua vida, quando foi morar em Nova York, em que queria se reinventar como
artista e também como ser humano. Passou a compor canções, como “Angela”,
por exemplo, que reivindicava liberdade para Angela Yvonne Davis, militante
pelos direitos das mulheres e contra a discriminação racial. Mais tarde, já
mais distante das composições ativistas, Lennon teria refletido sobre aquele
momento e dito que ele "parecia mais um jornalista que um poeta".
Haveria então uma maneira correta
de um autor criar a sua obra sem inserir nela uma crítica qualquer, uma
opinião, um anseio? Se a obra “sai” de dentro do autor, se é baseada em suas
experiências, seus sentimentos mais internos, suas visões de vida, suas preocupações
e desejos, não haveria como torná-la 100% objetiva, ou então sua criação não seria
arte. Trata-se então muito mais da “forma” e da “dosagem”. Sendo um poeta, que
faça poesia, sendo um compositor que componha uma música, um escritor que
escreva um conto, não apenas um discurso. Entretanto, haveria sim uma maneira
de, usando da criatividade, da inovação, fazer da sua arte, seja ela um poema,
um livro, uma canção, algo que toque as pessoas, que transmita a mensagem que
vem de dentro do autor, aquilo que ele julga importante, que suscite à
reflexão.
De acordo com Rogério Brito, “há
uma responsabilidade do autor de não ser isento o tempo todo. Ele tem também a
função de abrir os olhos da sociedade”.
Lembrou Patativa do Assaré que mesmo sendo um matuto, falava da seca,
defendia os menos favorecidos. “Ele era acusado de ser comunista, mas, não
tinha lido Karl Marx, apenas depois é que foi ler”.
Na opinião de Wagner Pires o escritor pode escolher se vai e como deve se posicionar. “Temos uma tradição
literária que de uma maneira geral sempre se posicionou”, ele lembra.
José Alaércio Zamuner reforça que
a literatura tem que tomar vida própria. “A literatura tem que ser a máxima da
expressão e a máxima da novidade”. Brinca que o poeta é um “grande mentiroso” e
que a criação literária é ilimitada.
A questão seria não demonizar
qualquer pensamento, seja ele à direita ou à esquerda, respeitando-se o direito
de expressão, tomando-se o cuidado de não caluniar, injuriar, causar danos
morais. Guilhermina Helfstein menciona o escritor Mark Twain que disse algo
como “em nosso país temos três coisas preciosas: a liberdade de expressão, a
prudência e a liberdade de não praticá-las".
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