quarta-feira, 30 de setembro de 2020

O século XX nas páginas do século XXI



            A polarização da literatura no século em que vivemos, a sua diluição entre tantos canais que a evolução tecnológica nos propicia, além do fato de ela estar sendo produzida por um número muito maior de pessoas em todo o mundo, pode ser o motivo pelo qual não tenha se formado ainda uma corrente literária atual, nova, genuína do século XXI.

      Se no século XX tivemos movimentos como o Cubismo, o Futurismo, O Expressionismo, o Manifesto Dadaísta, o Surrealismo, o Modernismo, entre outros. Que rótulo teríamos hoje para o que está sendo produzido?

            Na verdade, o que vivemos talvez seja uma assimilação de tudo o que surgiu no século passado, muito mais do que uma nova criação, uma degustação com uma releitura do que existia, com nosso olhar, a partir de diferentes vozes e de minorias ou de grupos maiores que, porém, nunca tiveram espaço e representatividade na sociedade. Seria muito mais uma literatura de resistência, de postura política, de crítica social, do que uma mudança estética.

            O surgimento de correntes ou movimentos não foi na maioria das vezes de caso pensado. Foram simplesmente aparecendo a partir de pessoas que discutiam seus assuntos de interesse, que conviviam e tinham entre si algo em comum. Sem perceber, ou programar, foram criando o que os outros enxergaram como sendo algo novo.

         Mas o que realmente é novo? O Slam, por exemplo, movimento surgido entre jovens das periferias e guetos, visto como algo em ascensão, seria um movimento novo ou algo criado a partir dos repentes ou da literatura de cordel?

            Talvez haja uma diferença não tão estética, mas de origem. Enquanto no passado Euclides da Cunha falava sobre o nordestino sofrido e abandonado ou Clarice Lispector gritava em favor da mulher, atualmente surge a literatura da mulher negra lutando pelo direito de ter voz, a literatura dos índios tentando chamar a atenção do mundo para si e para seus direitos. O mesmo ocorre com os LGBTQ+ e com muitos outros grupos que passaram a lutar para serem ouvidos.

          A imensidão dessas vozes faz com que tenhamos menos nomes em destaque, grandes nomes, grandes poetas, como no passado. Isso não quer dizer que não tenhamos bons escritores, bons poetas, pessoas criativas e de talento. Há aqueles que se tornam famosos por conseguirem um maior espaço de exposição, mas esses não são necessariamente os únicos possuidores de talento ou criadores de grandes obras. O avanço tecnológico abre espaço para muitos, mas a luz nem sempre os ilumina com a mesma intensidade. Todos poderão amanhã ser denominados, quem sabe, pós-contemporâneos.

O texto acima é um resumo do que foi discutido no VII Encontro de Escritores e Leitores, realizado em formato virtual.

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