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Mostrando postagens de 2020

Planeta Novo

Autora:   Fátima Gilioli Sinopse: Após detectar uma grave contaminação por vírus na Terra, dois jovens que trabalham no comando espacial da Ala Norte, região V do Alto Comando Militar Intergalático, atuam para neutralizar o problema, diante da ameaça de destruição do planeta que eles têm por função monitorar. Planeta Novo              Em algum lugar do espaço, em uma galáxia muito distante, uma nave pousa suavemente em sua plataforma, retornando de uma longa viagem. O piloto, jovem e arrojado, desce assobiando, feliz por mais uma de suas grandes aventuras concluídas, aparentemente com sucesso. A forma com que é recepcionado, porém, não é nada agradável.              ─ Por onde você andou, cara? Tentei monitorar essa sua jornada irresponsável até quanto pude, mas em determinado momento, perdi conexão. O comandante não ficará nada feliz se souber da sua insubordinação. Em nome de nossa antiga amizade te fiz o favor...

Mea Maxima Culpa

  D o alto do cais Rosália contempla o mar com um misto de tristeza e desconforto. Faz parte de sua rotina começar o dia dessa forma. Espera um dia despertar desse pesadelo terrível e voltar a visualizar águas puras e cristalinas, como em sua infância havia presenciado. As ondas batem insistentemente contra as estacas da estrutura, mas junto delas, uma infinidade de objetos faz o mesmo movimento. Garrafas plásticas, sacolas, pneus e outros sólidos, na maioria das vezes irreconhecíveis, parecem querer invadir todo seu espaço, procurando avançar cada vez mais ferozmente sobre o ambiente onde está o homem, parecendo conhecer sua responsabilidade por estarem ali à deriva.                    Em 2040, ela com seus 56 anos, ainda não se conforma com o aumento da poluição nos mares e rios, com aquele volume exagerado de materiais descartados irregularmente que vêm sabe-se lá de o...

O século XX nas páginas do século XXI

            A polarização da literatura no século em que vivemos, a sua diluição entre tantos canais que a evolução tecnológica nos propicia, além do fato de ela estar sendo produzida por um número muito maior de pessoas em todo o mundo, pode ser o motivo pelo qual não tenha se formado ainda uma corrente literária atual, nova, genuína do século XXI.        Se no século XX tivemos movimentos como o Cubismo, o Futurismo, O Expressionismo, o Manifesto Dadaísta, o Surrealismo, o Modernismo, entre outros. Que rótulo teríamos hoje para o que está sendo produzido?             Na verdade, o que vivemos talvez seja uma assimilação de tudo o que surgiu no século passado, muito mais do que uma nova criação, uma degustação com uma releitura do que existia, com nosso olhar, a partir de diferentes vozes e de minorias ou de grupos maiores que, porém, nunca tiv...

No meio da noite

               No meio da noite, na escuridão de meu quarto, minhas mãos, que involuntariamente repousavam entrelaçadas sobre meu peito, foram tocadas por alguém, que julguei ser um menino. Não consegui ver seu rosto, mas vestia uma camiseta de largas listras horizontais. O horror tomou conta de mim. Um grito forte e dolorido ficou preso em minha garganta. Em vez disso, consegui apenas um gemido. O desespero fez meu coração disparar. O ar já começava a me faltar, quando, felizmente, consegui despertar daquele terrível pesadelo.             Horas antes havia participado de um interessante encontro literário, ocasião em que lemos e analisamos o terrível conto de Allan Poe, O Coração delator. Através dele, um sádico assassino narra em detalhes como planejou e executou a morte de seu eleito – pobre velho cuja única culpa era ostentar em seu rosto um olho azul esbranquiçado que enchia de pav...

Distopia e Utopia na literatura e nas artes

Foi a pandemia do Corona Vírus que nos impôs a troca dos encontros presenciais pelos virtuais. Foi ela também que inspirou o tema do V Encontro de Escritores e Autores, realizado hoje em comemoração ao aniversário de primeiro ano do evento. Os quatro primeiros aconteceram em Guarulhos/SP durante o ano de 2019 e em janeiro de 2020. Com a crise sanitária mundial provocada pela Covid-19 e uma crise política que vem ganhando força a cada dia, nos vemos em uma realidade distópica, com muitos e mais intensos ingredientes que os criados pela literatura. Há escritores que se consagraram na utilização de distopias e utopias em suas obras. De Platão a Gabriel Garcia Marques, de Charles Chaplin a Geoge Orwell ou Aldous Huxley,   Manoel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, The Beatles e The Doors, foram inúmeros os autores e obras citadas no debate. Seria a distopia real e a utopia imaginária? Ao menos, ao que parece, a utopia deixa de sê-la quando é alcançada e surgem então novos sonh...

O chefe

Toda essa implicância de Bolsonaro com Mandetta me fez lembrar um antigo chefe. Quem conhece minha trajetória profissional sabe que comecei a trabalhar muito cedo, aos 14 anos e que, portanto, durante as quase quatro décadas em que tive a carteira assinada, foram muitos os chefes aos quais me subordinei. Desta forma, inútil tentar descobrir de quem estarei falando. Logo no início já percebi que nossa relação não seria fácil. Ele era uma pessoa aparentemente tímida, carrancuda, mais novo do que eu e com pouca experiência na área. Tinha sido alçado ao cargo por obra do destino, mas era muito competente em sua função de origem e demonstrava disposição, capacidade para aprender e se desenvolver em sua nova posição (nesse caso, nada a ver com o chefe da nação). Isso o qualificava e sinalizava que a escolha da empresa havia sido acertada. Cá para nós, tal qual para o presidente, faltava-lhe humildade, mas esse atributo nunca foi muito requisitado para cargos de liderança. Não d...

Diário de uma quarentena

Mesmo já tendo completado uma semana em quarentena, esta é a primeira vez que resolvo escrever sobre tudo isso que estamos passando. Ainda não tinha tido tempo. Sim, é verdade, embora em isolamento, ainda não tinha conseguido parar para refletir ou para escrever – o primeiro ato é sempre necessário para que o segundo aconteça. É fato que nem sempre as pessoas seguem essa sequência. Há quem escreva regularmente, sem nunca refletir. Apesar de me considerar uma pessoa conectada, sábado passado assisti à minha primeira missa on line. Embora não seja exatamente uma novidade, para mim, sempre foi necessário estar presente na igreja, presenciar ao vivo os ritos religiosos. Cheguei até a criticar intimamente as pessoas que optavam por acompanhar as cerimônias pela televisão. Achava difícil entrar em estado de oração em frente a uma tela. Atualmente, diante da impossibilidade, essa rejeição acabou por completo e pude experimentar uma comunhão espiritual fortalecedora. Recomendo. Sempr...