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Mostrando postagens de 2024

Fronteiras e Câmbios entre a Poesia e a Prosa

     Quando perguntado sobre a diferença entre prosa e poesia em uma entrevista, Umberto Eco disse que o poeta reage à palavra, enquanto que quem escreve prosa relata coisas que acontecem no mundo. Para ilustrar sua tese, ele contou uma história sobre o poeta italiano Montale, que fazia poemas sobre flores, apesar de não as conhecer, apenas gostando da sonoridade que seus nomes tinham. “Meus poemas são sobre palavras, não sobre coisas”, teria dito.      Provavelmente a afirmação dos dois tenha relação com a forma ritmada com que se usa as palavras nos poemas. Elas são escolhidas e dispostas para se ter certa cadência.      Ainda que se escreva livros inteiros somente para dizer o que é poesia e o que é prosa, certamente ainda ficaria algo por falar. No mínimo, podemos dizer que poesia e prosa se diferenciam pelo ritmo. A poesia assemelha-se mais à música, ela tem que ter essa cadência, tem que ter combinações sonoras entre as palavras. A ...

Arte por encomenda: do mecenato aos comerciais

Foto de Angelo Macedo A palavra mecenato vem do Império Romano, de antes de Cristo, e teve origem em Caio Mecenas, que como conselheiro do imperador Otávio Augusto começou a influenciá-lo a investir nos artistas, de alguma forma patrocinando algumas obras. No Renascimento, do século XV para XVI, o modelo de arte começou a ser uma retomada do classicismo da antiga Grécia, da antiga Roma, e começou-se a usar o conceito de mecenas. Só que não mais apenas em relação à família real, podendo ser executado por nobres, alta burguesia ou pela igreja. Essa última, a Igreja, foi mecenas de muitos artistas. O pintor Hieronymus Bosch é um exemplo. Autor do quadro “O Jardim das delícias terrenas” (disseram que era inicialmente patrocinado pela igreja, apesar de seu conteúdo um tanto inadequado para os padrões morais dessa entidade) antecipou em séculos o surrealismo. Se compararmos suas pinturas às de Salvador Dali, podemos concluir que o segundo pode ter se influenciado pela obra do primeiro. Um ...

Reflexões sobre como a figura do escritor é retratada nas telas

  Sonhador, romântico, boêmio, marginal, irresponsável são muitos os rótulos que vêm sendo atribuídos aos escritores em suas diversas versões televisivas ou cinematográficas. Para tentar captar essas imagens e detectar suas distorções em relação à realidade, colocamos em pauta o tema “Reflexões sobre como a figura do escritor é retratada nas telas". Em sua introdução, o escritor César Magalhães Borges usou como recurso buscar exemplos dessa representação de forma cronológica, partindo da novela “O feijão e o sonho”, produzida e exibida pela TV Globo em 1976. Baseada no romance de mesmo título, de Orígenes Lessa, a história contrapõe os dois personagens principais como obstinados, ora pelo “feijão de cada dia”, papel da esposa, Maria Rosa, ora pelo “sonho”, perseguido pelo marido, Campos Lara, poeta, escritor, que permanece alheio às dificuldades de sustento e sobrevivência da família. Outra pérola relembrada por ele foi a série “Os Waltons”, exibida, no Brasil, de 1975 a 1981....

Somos sacrários vivos!

       “Somos sacrários vivos!”, disse o padre, durante a homilia de hoje. Corpus Christi é uma data que sempre me comove profundamente. Se alguém quiser experimentar sentir a ação do Espírito Santo, vá a uma celebração como essa. Ainda dá tempo.      Eu costumo me concentrar em qualquer missa e principalmente na celebração da eucaristia, mas, apenas algumas vezes, muito especiais, tive a real sensação de ser tomada pelo Espírito Santo de Deus.  Certamente, a primeira de minha longa jornada católica foi em companhia de minha querida mãe Yolanda, ainda na Catedral de Campinas, igreja a qual ela me levava desde pequena.      Senti também o coração transbordar de emoção em uma rápida missa, olhem só, depois do trabalho e antes de ir para a aula da faculdade, em uma capela lá na Puc Campinas. Ia quase todos os dias, mesmo que chegasse alguns minutos atrasada à sala de aula.      Com o passar do tempo, a gente começa...

Direitos Autorais e Domínio Público: quando a vontade do autor já não conta mais

     Quando, em janeiro deste ano, toda a obra de Graciliano Ramos caiu em domínio público, imediatamente foi anunciada a publicação de um livro inédito seu, “Os filhos da Coruja”. Trata-se de um poema, manuscrito pelo autor, com pseudônimo de J. Calisto. Pela vontade dele e pela disposição de seus herdeiros, isso jamais aconteceria, pois, o autor de Vidas Secas tinha deixado instruções explícitas para que escritos nessas condições não fossem editados após sua morte.      Depois que um autor morre, os direitos autorais sobre suas obras passam para seus herdeiros num prazo de 70 anos. Após esse período, de acordo com a legislação brasileira, todo seu acervo cai em “Domínio Público”. Isso significa que a partir daí qualquer pessoa ou empresa pode se utilizar de parte de suas criações ou da totalidade delas para fazer o que quiser, republicar, transformar a escrita para teatro ou audiovisual, tomar como base ou fonte de inspiração para novas criações etc. Há...

IA... até onde pode ir na Literatura e nas demais Artes?

         Embora a IA seja uma tecnologia relativamente recente em termos de aprimoramento e utilização prática em maior escala, essa pauta já vem sendo discutida há muito tempo, pensando-se na tecnologia como algo que provoca desemprego em vários ramos, inclusive nas artes.  Imaginemos o que aconteceu com os escribas e copistas da idade média, quando a quantidade de volumes de um livro publicado dependia da mão humana para ser multiplicada. Após a invenção da imprensa, todos ficaram desempregados.      Tal qual o cinema, que usa uma câmera e produz 24 fotogramas por segundo para, através da sua justaposição, provocar a ilusão do movimento, da mesma forma acontece com as animações. Até um passado bem recente esses desenhos eram feitos a mão. Imaginemos quantos desenhistas eram necessários para fazer essas tantas imagens e quantos deles devem ter sido dispensados a partir da chegada do computador.      Portanto, as atividades...