Pular para o conteúdo principal

A igreja que Fogaça não conhece


No último sábado, ao ver no Twitter a reprodução dos infelizes vídeo e foto postados pelo Chef Henrique Fogaça, minha primeira reação foi de total incredulidade. Sou fã do trabalho dele, acompanho MasterChef, conheço parte da vida pessoal dele, do seu carinho e dedicação a uma filha especial, seus trabalhos sociais etc. Nem cheguei a ver os comentários, pois, imaginava que a repercussão seria trágica.

Na missa de domingo, durante a homilia do padre sobre o apóstolo Pedro, base da igreja Católica Apostólica Romana, quando ele falava sobre os problemas que a igreja vem enfrentando e sobre nosso papel como membros dessa igreja, me veio imediatamente o conteúdo da postagem do Fogaça. Senti que tinha que escrever uma resposta a ele. Não um ataque, uma ameaça de boicote como muitos fizeram, ou atitudes típicas de haters. Senti a necessidade de dizer a ele o quanto sua atitude foi fora de propósito e arcaica.

Por ser um assunto tão delicado, o texto só saiu agora.

Criticar uma urna antiga datada de séculos, que tem o papel mais histórico do que de qualquer coisa, um patrimônio, não só da igreja, mas da humanidade é de total falta de senso.

Talvez o Fogaça não conheça o papa que atualmente habita o vaticano. Esse homem que desde o momento que assumiu, com suas atitudes franciscanas, pregando a simplicidade e humildade, demonstrou tendência a mudar o que é alvo de críticas na igreja católica. Talvez não tenha sabido que o papa Francisco rejeitou as vestimentas solenes e mandou confeccionar para si vestes mais simples, aparecendo sem ouro ou outros assessórios anteriormente usados pelos papas.

Talvez esteja desinformado sobre a defesa que Francisco tem assumido diante dos refugiados e da perseguição a que vem sendo submetido por causa disso, por políticos da Itália.

Para falar de mais algumas de suas ações ele foi o primeiro papa a nomear mulheres para cargos chave no vaticano, também colocou em estudo a nomeação de padres casados na Amazônia. Defendeu uma mãe, rotulada de mãe solteira, dizendo que “mãe não é estado civil” e estimulou padres a batizarem crianças filhas de pais não casados na igreja. Lembrando que seu perfil é tido como conservador.

Não, o papa Francisco não é perfeito. Ele é um ser humano. A igreja não é perfeita, pois, é administrada por seres humanos.

Desde que eu era criança ouço algumas pessoas atacarem a igreja católica por suas riquezas e propriedades, que se convertidas em recursos poderiam ajudar muitos pobres. Minha primeira conclusão a respeito foi essa, de que a igreja é composta por seres humanos, passíveis de qualidades e defeitos. Sempre refleti muito sobre isso e procurei me envolver ainda mais para saber como ela era de verdade, como funcionava. Nunca tive o prazer de ir até o Vaticano. Conheço, sim, as comunidades e paróquias distribuídas por todas as cidades do Brasil. Já frequentei várias.

Conheço e já participei por algum tempo da pastoral da Criança, que executa pesagens e acompanhamento de crianças carentes e de suas mães, que ministra a elas um simples soro e um reforço alimentar que já foi reconhecido pelo seu papel com resultados significativos no combate à mortalidade infantil.

Conheço a pastoral carcerária, que leva apoio moral e ensinamentos cristãos a presos, com doação de alimentos e produtos de higiene. Conheço a pastoral dos doentes, cujos membros levaram a eucaristia até minha casa durante os nove meses em que minha mãe esteve acamada, antes de sua morte. Foi uma benção tão grande e um reforço para que ela e nós suportássemos o sofrimento a que a vida nos havia imposto.

Conheço e já frequentei reuniões da pastoral da sobriedade que tanto ajuda pessoas com dependência Ide álcool e drogas. Existe também outras pastorais, a Pastoral da Saúde, Pastoral da Pessoa Idosa, Pastoral do Povo de Rua, Pastoral dos Imigrantes, e muitas mais, além de ações dos Vicentinos que ajudam famílias carentes que vivem próximas a cada comunidade.

Tudo isso de bom é fruto da igreja católica, a parte que talvez o Fogaça não saiba que exista. Hoje vi seu post de pedido de desculpas (apenas pela foto que diz não ter sido feita de propósito). Achei pouco, mas, quem sabe um começo. Espero que leia isso e que reflita ainda mais sobre o que fez e quem sabe procure se informar um pouco mais antes de atacar alguém, alguma instituição ou milhões de fiéis espalhados pelo mundo.

#HenriqueFogaça
#IgrejaCatolica
#Vaticano





Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O século XX nas páginas do século XXI

            A polarização da literatura no século em que vivemos, a sua diluição entre tantos canais que a evolução tecnológica nos propicia, além do fato de ela estar sendo produzida por um número muito maior de pessoas em todo o mundo, pode ser o motivo pelo qual não tenha se formado ainda uma corrente literária atual, nova, genuína do século XXI.        Se no século XX tivemos movimentos como o Cubismo, o Futurismo, O Expressionismo, o Manifesto Dadaísta, o Surrealismo, o Modernismo, entre outros. Que rótulo teríamos hoje para o que está sendo produzido?             Na verdade, o que vivemos talvez seja uma assimilação de tudo o que surgiu no século passado, muito mais do que uma nova criação, uma degustação com uma releitura do que existia, com nosso olhar, a partir de diferentes vozes e de minorias ou de grupos maiores que, porém, nunca tiv...

Fronteiras e Câmbios entre a Poesia e a Prosa

     Quando perguntado sobre a diferença entre prosa e poesia em uma entrevista, Umberto Eco disse que o poeta reage à palavra, enquanto que quem escreve prosa relata coisas que acontecem no mundo. Para ilustrar sua tese, ele contou uma história sobre o poeta italiano Montale, que fazia poemas sobre flores, apesar de não as conhecer, apenas gostando da sonoridade que seus nomes tinham. “Meus poemas são sobre palavras, não sobre coisas”, teria dito.      Provavelmente a afirmação dos dois tenha relação com a forma ritmada com que se usa as palavras nos poemas. Elas são escolhidas e dispostas para se ter certa cadência.      Ainda que se escreva livros inteiros somente para dizer o que é poesia e o que é prosa, certamente ainda ficaria algo por falar. No mínimo, podemos dizer que poesia e prosa se diferenciam pelo ritmo. A poesia assemelha-se mais à música, ela tem que ter essa cadência, tem que ter combinações sonoras entre as palavras. A ...

Balada: a arte da narrativa em poemas e canções

       O nome Balada vem de uma tradição francesa, na era medieval, e o significado do termo tem  mesmo relação com o ato de bailar. Mais tarde se torna muito popular na Inglaterra e na Irlanda também. É uma cultura oral em que o poeta está em ato se  apresentando para uma plateia.  Por isso  estão  presentes  os elementos  teatrais. Ele faz todas  as inflexões de voz,  molda seu gestual,  tudo para a  história  que está contando. Muitas  vezes é acompanhado de um alaúde ou outro instrumento musical. Uma poesia muito próxima do espírito da  canção. Portanto, a balada está  muito ligada às próprias  origens do teatro. Uma origem muito performática, muito musical. E a balada tinha essa característica muito própria  –  era uma contadora de histórias, uma narrativa em versos.      Justamente por ser uma cultura baseada na oralidade, poucos nomes de compositores de b...