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A representação artística do amor no século XXI

 

O amor, em toda a sua amplitude, sempre foi um tema bastante retratado na arte, em todos os tempos. É eterno. Enquanto existir o gênero humano, haverá o amor e ele sempre será expressado na arte, por mais que a arte, muitas vezes, o trate como algo dentro ou fora de moda. Muitas vezes a palavra romântico vem carregada de certo preconceito, imaginando-se algo bobo, “água com açúcar”.

Fazendo uma busca rápida, podemos citar como representação do amor de todos os tempos “Romeu e Julieta”, de Willian Shakespeare, peça do século XVI que já foi amplamente representada nas épocas seguintes em diversas versões e linguagens, em teatro, cinema, de várias formas. Titanic levou multidões à telona para acompanhar a história baseada em um trágico acidente real, mas com a incorporação de um par romântico, que atingiu em cheio o coração dos amantes, originalmente em 1953, e ainda mais com a versão de 1997. Foram muitos mais. Como outros exemplos, os filmes “Love Story”, “Em algum lugar do passado”, Ghost, “Uma linda mulher”, o romance “O amor nos tempos do cólera”, também já transformado em filme, além do grande sucesso de leitura e bilheteria, “A culpa é das estrelas”. 

Mas o Romance vem dos povos romanos e o romantismo é um dos movimentos mais revolucionários do ocidente. É o movimento da liberdade, retrata o dia a dia, traz o “eu”, o ser humano comum, para o centro.

O que está por traz da revolução francesa, liberdade, igualdade e fraternidade são ideais românticos. São eles que vão suscitar todos os movimentos de libertação nas américas. Walt Whitman, por exemplo, é um poeta romântico do amor universal, do amor à liberdade, à liberdade do outro. Antes e depois do romantismo sempre haverá o amor como combustível de algo. 

Entretanto, a forma de retratar o amor vai mudando conforme a sociedade muda.  No passado, o que prevalecia nas cantigas de amigo, de amor, medievais, era a fala do amante para a pessoa amada. Sempre o homem na posição de alguém que vai partir e deixar a amada esperando. E isso se estende até a década de 1960. Até nas primeiras canções dos Beatles encontra-se essa posição de “vou te escrever uma carta”. A mulher na posição passiva, daquela que está esperando o homem amado. Além disso, prevalece o cortejo à mulher. Até na Bossa Nova, em que as canções falam da beleza da mulher. “Olha, que coisa mais linda, mais cheia de graça...”.

Isso começa a mudar, na própria década de 1960, ainda citando como exemplo os Beatles, com Lady Madonna. É a mulher amamentando um, com mais dois outros filhos para cuidar. Uma mulher forte, que luta, que sustenta a sua família. O mesmo tema aparece em “Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant.

No final do século XX, começam a aparecer com mais frequência nas artes a expressão do poliamor. Criações no estilo “Dona Flor e seus dois maridos”, “Eu, tu, eles”, “O Quatrilho”. Nas Novelas, esse poliamor aparece através de personagens de outras culturas, principalmente islâmicas, como em “O Clone”.

Atualmente se busca expressar mais representatividade nas artes. Em 2010, Julie Maroh lança um romance gráfico intitulado “Azul é a cor mais quente”, que rapidamente se transforma em filme (2013). É uma história de amor que retrata todos os sofrimentos que os amantes têm, o ciúme, a desconfiança, a insegurança, uma parte tentando se valorizar perante a família da outra, perante os amigos da outra. Agruras de qualquer casal, apenas com a particularidade de se tratar de pessoas do mesmo sexo. Anteriormente, em 2006, “O Segredo de Brokeback Mountain” já retratava o amor proibido e secreto entre dois cowboys. Em “A garota dinamarquesa”, de 2016, assistimos a uma gradual mudança de um pintor, transformando-se em mulher.

Mas não devemos nos esquecer de que a literatura mais antiga também trazia em alguns momentos esses enfoques. Na literatura Grega já havia o poliamor, em “As Bacantes”, a exploração de personagens em loucura e êxtase sexual, embora em uma experiência religiosa. Madame Bovary narra a história de uma mulher inteligente, bela e insaciável. Em “Grande Sertão: Veredas” aparece a atração, ainda que equivocada, entre dois homens.

Em relação a mudança dos tempos, podemos dizer que no século XX o feminismo emancipa a mulher e muda a característica dos relacionamentos amorosos. Na literatura, Clarice Lispector aparece até hoje como exemplo de alma feminina em seus escritos.

E voltando mesmo às características atuais, essa busca pela representatividade nas artes acontece porque nós queremos nos ver nas obras. Encontrar nelas o que sentimos, mas não conseguimos expressar. Quantas vezes não assistimos a um filme mais de uma vez por nos sentirmos representados por alguns de seus personagens? Quantas vezes uma pessoa dedica uma canção para outra, porque a letra está dizendo algo que ela não consegue falar?

Aliás, falando em música, o gênero “sofrência” se proliferou e ganhou fãs cativos, abordando infidelidade conjugal, principalmente. As canções trazem a voz da mulher traída querendo “dar o troco” no homem, ou do homem se contorcendo com as dores de “corno” ou mesmo de arrependimento por uma traição.

Por tudo isso, quem fala hoje de amor, respeitando as formas de representatividade, acaba atingindo mais pessoas. O foco pode estar na aceitação do próprio “eu”, em um investimento no autoamor ou na diversidade do amor, nas outras culturas, em outras formas de amar e de sofrer por amor.

Dicas de obras:

O amor nos tempos do cólera – (livro) 1985 autor: Gabriel García Márquez – (filme) 2007

Titanic - (filme) - 1953 – 1997

Love Story - (filme) - 1970

Romeu e Julieta – (peça) Século XVI autor: Shakespeare – (filme) 1996

Ghost – (filme) 1990

Uma linda mulher – (filme) 1990

Em algum lugar do passado – (livro) 1975 autor: Richard Matheson - (filme) 1980

A culpa é das estrelas – (livro) 2012 autor: John Green - (filme) 2014

O Segredo de Brokeback Mountain – (filme) 2006

Dona Flor e seus dois maridos – (livro) 1966 - autor: Jorge Amado - (filme) 1976 e 2017

Eu, tu, eles - (filme) 2000

O Quatrilho – (livro) 1985 autor: José Clemente Pozenato - (filme) 1995

O Clone – (novela) 2001-2002

As Bacantes – (peça) 405 a.C. autor: Eurípides

Madame Bovary – (livro) 1856 autor: Gustave Flaubert – (filme) 1934- 1949-1991-2015

Grande Sertão: Veredas – (livro) 1956) autor: Guimarães Rosa – (filme) 1965 – (minissérie) 1985 – (filme) 2024

Azul é a cor mais quente – 2010 (livro) autora Jul Maroh – (filme) 2013

A garota dinamarquesa – livro (2000) autor: David Ebershoff - (filme) 2016

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Obs.: Este texto foi elaborado com base nas discussões sobre o tema que ocorreram durante o XXVIII ENCONTRO DE ESCRITORES E LEITORES – “A representação artística do amor no século XXI" – Em 31/01/2025  – às 19 horas

 




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