Mulheres em conexão com o
passado, presente e futuro, esse foi o tema do segundo encontro do Clube do
Livro do Sesc Guarulhos.
De acordo com Pétala Souza e
Isabela Souza, as mediadoras do evento, a menção de passado, presente e futuro é
uma das características da maioria das obras das autoras negras. Isso
aconteceria porque esses tempos estão interligados e os acontecimentos de um
influenciam diretamente nos outros, apesar de nem sempre nos darmos conta disso. Para se construir um futuro se faz
necessário acompanhar o presente e conhecer o passado.
As duas obras escolhidas para
análise exemplificam bem essa característica. Dana, a protagonista de Kindred
Laços de Sangue, de Octavia E. Butler, se vê transportada para o passado e
estabelece contato com a escravidão, cuja história conhecia dos livros, mas que
passa a vivenciar durante sua experiência de viagem no tempo.
Em seu vigésimo sexto
aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em
meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de
joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça. Dana repentinamente se encontra
à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela
corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se
diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de
volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais
aterrorizante de sua vida... até acontecer de novo. E de novo. Quanto mais
tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso
para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar
antes mesmo de ter começado.
Uma resenha de Los Angeles Herald-Examiner
afirma: “Impossível terminar de ler Kindred sem se sentir mudado. É uma obra de
arte dilaceradora, com muito a dizer sobre o amor, o ódio, a escravidão e os dilemas
raciais, ontem e hoje”.
Na obra "Ponciá Vicêncio", a
segunda escolhida para análise, a autora Conceição Evaristo traça uma conexão
entre a escravidão passada e as dificuldades enfrentadas pelos negros na
atualidade.
A história descreve os caminhos,
as andanças, as marcas, os sonhos e os desencantos da protagonista, Ponciá
Vicêncio. A trajetória da personagem da infância à idade adulta, permite uma
análise de seus afetos e desafetos e seu envolvimento com a família e os
amigos. Com disso, discute-se a questão da identidade de Ponciá, centrada na
herança identitária do avô e estabelece um diálogo entre o passado e o
presente, entre a lembrança e a vivência, entre o real e o imaginado.
No mundo individualista em que vivemos,
vem a calhar a compreensão da vida como um tempo misturado do
antes-agora-depois-e-do-depois-ainda, de um povo e das heranças que carrega e
irá passar à diante sempre.
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