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Mostrando postagens de 2019

O direito humano de entrar no céu

Recém-chegado às portas do céu, o homem é orientado a se dirigir à fila de triagem. À sua frente há apenas uma pessoa. Para tentar entender como funciona, ele puxa conversa: __Ei, amigo, sabe se demora o atendimento aí? __Ah não, senhor, não demora nada. Já percebi que aqui tudo funciona muito bem. As pessoas são tratadas com muito respeito, independentemente de como tenham se comportado lá na terra. Assim que nos chamam, nós entramos lá e o encarregado vai consultar a nossa ficha. Se estiver tudo certo, entramos direto. Se voltarmos pra cá é porque não fomos aprovados de primeira. Então, teremos que nos dirigir àquela outra porta ali, bem à direita. Aquela é a sala de provas. __Ah, tá. À da direita, né? Ainda bem. Se fosse à esquerda, aí ia complicar. Detesto a esquerda! __O senhor tem um porte de soldado. Foi militar? __Ah, eu, sim, fui capitão. Tive uma carreira brilhante lá no exército. Todo mundo me adorava. Sai porque recebi um chamado pra carreira política. Sabe...

Que dor é essa?

“Que povo é esse, que ao som do atabaque e da batida do tambor, canta e dança seu lamento e sua dor?” Logo de início esse mantra que abriu a missa de hoje pela manhã na comunidade católica que frequento já me emocionou.   Ele foi declamado por uma jovem no momento em que a procissão de entrada invocava o dia da consciência negra, oficialmente comemorado no próximo dia 20. De tão envolvida com a cena, acabei omitindo do vídeo a primeira parte, embora o que esteja postando aqui também esteja carregado de extrema beleza. Ao ouvir o mantra e contemplar aquelas pessoas exteriormente ornamentadas com motivos afros e internamente carregando o legado da raça negra, com um misto de orgulho e sofrimento passados de geração em geração, não pude deixar de pensar no livro que acabei de ler. ”Kindred, laços de sangue”, de Octavia E. Butler (*). Enredo que nos dilacera a alma, não é apenas simples ficção, imaginada, inventada, é retrato da história acontecida no mundo todo em variadas épocas....

Mulheres em conexão com passado, presente e futuro

Mulheres em conexão com o passado, presente e futuro, esse foi o tema do segundo encontro do Clube do Livro do Sesc Guarulhos. De acordo com Pétala Souza e Isabela Souza, as mediadoras do evento, a menção de passado, presente e futuro é uma das características da maioria das obras das autoras negras. Isso aconteceria porque esses tempos estão interligados e os acontecimentos de um influenciam diretamente nos outros, apesar de nem sempre nos darmos conta disso. Para se construir um futuro se faz necessário acompanhar o presente e conhecer o passado. As duas obras escolhidas para análise exemplificam bem essa característica. Dana, a protagonista de Kindred Laços de Sangue, de Octavia E. Butler, se vê transportada para o passado e estabelece contato com a escravidão, cuja história conhecia dos livros, mas que passa a vivenciar durante sua experiência de viagem no tempo.  Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio ...

Escrita – a influência nossa de cada dia

Com a ideia de que influência não é cópia e que não há escritor sem leitura, começa a conversa no nosso III Encontro de Escritores e Leitores, acontecido ontem no espaço do Kas Tattoo, em Guarulhos. Como o tema desta vez era “Criação, Estilo e influência do autor”, o mediador, o poeta César Magalhães Borges, começa lembrando que não podemos negar que somos influenciados pelo meio em que vivemos, pela língua que falamos, pelos padrões culturais a que estamos submetidos. “Ninguém faria uma poesia, um conto, um romance, se não aprendesse dentro desse caldeirão da cultura”, afirma. O poeta lembra que é o nosso contato com as outras artes, com a obra do outro, que nos faz começar a escrever. “Sequer falaríamos se não estivéssemos em um grupo que fala”.   Além disso, mesmo aquele cantador ou poeta que por algum motivo não aprendeu a ler e escrever criou sua arte de ouvir outros cantadores. César Borges ainda comenta uma frase tão infeliz quanto absurda que ouviu de um preten...

Voz: arma e escudo

Hoje, no primeiro dia oficial do Clube do Livro organizado pelo Sesc Guarulhos, o tema foi “A literatura como caminho para o encontro com vozes de mulheres negras”. Os exemplos de vozes negras escolhidas vieram dos livros “O ódio que você semeia”, da escritora norte-americana Angie Thomas e Querem nos Calar, uma antologia compilada por Mel Duarte. O ódio que você semeia é uma história juvenil que trata de um tema que não tem idade: o racismo dos tempos de hoje. A jovem Starr desde cedo foi treinada pelos pais sobre como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial: não fazer movimentos bruscos, deixar sempre as mãos à mostra, só falar quando lhe perguntarem algo. Quando ela e seu amigo Khalil são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e tiros disparados. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue e sem vida. Indignada com a injustiça tão exp...

Quem quer ser santo?

Um conhecido programa de TV pergunta “Quem quer ser um milionário?”. O assunto já virou até filme. É claro que a resposta “sim” predomina. Por ocasião da proximidade da proclamação de Irmã Dulce como santa (37ª Santa brasileira), neste domingo (13), me ocorreu de forma analógica perguntar: Quem quer ser santo? Aposto que grande parte responderá que não. Existe grande preconceito em relação a ser santo. Lembro-me de uma vez ter chamado a atenção de um garoto por causa de uma travessura. Disse que deveria se comportar, essas coisas que se fala às crianças nesses momentos, no que ele prontamente me respondeu: “Tia, você não vai querer que eu seja santo, né?”. As pessoas, mesmo as que seguem uma religião, não costumam pensar na santidade como algo a ser almejado. Por alguma razão atribuem esse fenômeno a seres predestinados, que já teriam nascido santos. Outros se referem à santidade como sinônimo de “ser bobo”, “ser ingênuo”. Acontece que alguns santos não foram tão perfeitos...

SESC Guarulhos lança Clube de Leitura

Guarulhos é uma cidade repleta de autores e de amantes de literatura. Só que pouca gente sabe disso. Essa é uma constatação que eu já havia tido em outras oportunidades e acabei comprovando hoje, quando participei do primeiro encontro de um Clube de Leitura que está sendo criado pelo Sesc Guarulhos. A novidade foi idealizada por Pedro Alberto Ribeiro que é técnico em literatura do Sesc e estruturado pelas irmãs Pétala e Isabella Souza, participantes ativas e incentivadoras desses clubes através do blog Parênteses. De acordo com as blogueiras, são diversos tipos de clubes de leitura espalhados pelo Brasil, que também são chamados de diversas formas: clube do livro, clube de leitura, clube de leitores, reunião leitores etc. Alguns funcionam em locais específicos, outros são virtuais através de redes sociais. A forma de funcionamento de cada um deles também é variada. Há os que escolhem livros para serem lidos e comentados. Outros estabelecem um tema e cada componente lê e co...

Beber demais é engraçado?

#alcoolismo #bebersocial #joaocanabrava #escolinhadoprofessorraimundo #redeglobo

A forma da arte

Missão impossível essa de elencar em poucas palavras o resultado de um encontro de autores e de amantes da literatura, com duração de pouco mais de duas horas, diante de um tema tão complexo como o que havia sido proposto no Segundo Encontro de Autores de Guarulhos. O evento, realizado ontem à noite, dia 16 de agosto, no Espaço Novo Mundo, da Livraria Nobel , tinha por objetivo discutir a “Liberdade de Expressão e Crítica Social na literatura. Qual a responsabilidade do autor? “ Contou com a mediação de César Magalhães Borges e com a participação de autores como José Alaercio Zamuner, Rogério Brito, Guilhermina Helfstein dentre muitos outros. Praticamente um consenso entre os participantes é o de que vivemos em tempos de constante ameaça à liberdade de expressão, bem como do retorno a algo semelhante à censura que o país vivenciou no século passado. Tirando o fato de que vivemos uma democracia que ainda necessita ser ampliada, reforçada, revigorada, em que, por exemplo, os aces...

Pai&Filhos&Álcool

A proximidade do dia dos pais nos induz a refletir sobre a relação pai e filho, sobre as influências que um exerce sobre o outro, sobre as responsabilidades, os prazeres, as dificuldades, as barreiras que podem se colocar no meio dessa relação. Entendo que só a parte boa seja objeto das postagens nas redes sociais, nas peças de propaganda, nas conversas e reuniões em família. Faz parte de nossa tendência, na maioria das vezes positiva, de reforçar coisas boas, momentos felizes e conquistas em nossas vidas. Por esse motivo, mais uma vez, peço desculpas por trazer à pauta assuntos não tão agradáveis de ler, ao estarmos próximos de tão importante data comemorativa. Mas afinal, essa é a proposta do meu livro Código 303. Considero de suma importância uma reflexão profunda sobre a relação Pai&Filhos&Álcool. Outro dia fui a um churrasco de amigos de um amigo. Fui muito bem recebida naquele grupo e passei momentos agradáveis, é verdade. Porém, uma situação que presenciei me ...

História do Cordel em exposição na Biblioteca Mário de Andrade

O Cordel foi assunto em uma roda de conversa ontem, 06/08/2019, na Biblioteca Mário de Andrade. Estive lá e presenciei tudo durante a abertura da exposição “Cordel – A História dos Folhetos Nordestinos no Acervo da Mário”. Mediada por Rita Palmeira, a roda teve a participação do curador Rizio Bruno Sant’Ana e do poeta e compositor Moreira de Acopiara. Estava prevista também a participação da cordelista Jarid Arraes, que infelizmente não pôde comparecer. D e acordo com Rizio, foram adquiridos seis mil folhetos de cordel do ex-embaixador Rubem Amaral Jr. que se somaram aos 330 que já pertenciam à biblioteca. A partir deles foram selecionados os 150 que estão expostos no 3.o andar do prédio para visitação até 30 de agosto.  Q uem vier à exposição poderá ver capas de publicações portuguesas, espanholas e brasileiras e apreciar uma variedade de temas como cangaço,  questões sociais, como seca e miséria, amor, religiosidade, política ou ainda temas variados co...

Prêmio “Excelência em investimento pessoal”

Eu fui indicada para receber a Comenda Excelência e Qualidade Brasil 2019. Pelo menos foi o que me informaram por e-mail em abril deste ano e novamente agora em julho. Minha primeira reação foi a de curiosidade, afinal, segundo explicava a mensagem, alguém tinha indicado meu nome para receber o título de comendadora pela categoria “Profissional do Ano/Destaque Nacional/Mérito Social Profissional & Cidadã que acrescenta à Nação/Exemplo digno de ser seguido por todas as pessoas de boa fé, honestas e de caráter, voltada em prol de uma sociedade mais igualitária, justa e perfeita”. Ainda, segundo o comunicado, a categoria citada é apenas uma das 50 privilegiadas com o prêmio, abrangendo desde Personalidades Políticas, Culturais e Artísticas, Entidades públicas e privadas, Empresas e Profissionais. Seria eu “merecedora” de tal honraria? Um momento de reflexão e a conclusão foi a de que, sim, eu me considero uma profissional exemplar e empenhada em ações para um mundo melhor. Uma in...

Ficção e realidade: suas influências e benefícios para o mundo real

Você tem o hábito de ler ficção? Tem noção dos benefícios que esse ato pode te trazer? Foi a partir do compartilhamento de experiências das autoras Talita Salvador (“Entre dois Mundos”) e Rosana Dias Vitachi (Trilogia “O Espelho do Monge”), com pitadas de análise profissional da psicóloga Carla Alberici, que pudemos conhecer um pouco sobre o processo de criação de histórias de ficção e de sua influência no psicológico das pessoas.   A participação da plateia também contribuiu para a realização de uma conversa franca e agradável. Eu tive o prazer de mediar essa conversa que aconteceu no último sábado, dia 06/07/2019, no Espaço Novo Mundo, da Livraria Nobel, em Guarulhos. Veja um resumo das principais perguntas e respostas: Mediadora : Primeiramente, peço que as escritoras comentem o que as inspirou a escrever e que façam uma sinopse de seu livro. Talita : Tudo começou com um sonho que tive. O prólogo do meu livro é a descrição desse sonho. Quando aconteceu...