sexta-feira, 31 de maio de 2019

Uma reforma é sempre bem vinda?


Uma reforma é sempre bem vinda, desde que seja para melhorar algo, para corrigir imperfeições, modernizar, atualizar etc.

Quando o telhado de uma casa está falho, cheio de goteiras e exposto a danos por ventos e tempestades é certo que precisa de uma reforma. Quando as paredes trincam, os rebocos caem, a umidade aparece, uma reforma sem dúvida tem que ser providenciada. Se há problemas na parte elétrica, encanamentos que vazam ou entupidos, é necessário providenciar um reparo ou uma reforma, com urgência. Quando uma dessas situações acontece ou todas juntas, se nada for feito, um dia a casa cai, pode ter certeza.

Só que essa reforma geral ou setorizada precisa ser bem planejada e bem executada, do contrário poderá ter o efeito oposto, ou seja, piorar ainda mais a situação. Há que se pensar no telhado adequado às estruturas do imóvel, à exposição solar e aos ventos que soprarão sobre ele. Para as paredes é necessário primeiro vedar as trincas, impermeabilizar, para depois completar com a pintura. Para mexer nas partes elétrica e hidráulica, um estudo detalhado precisa ser feito em toda a rede, para detectar onde estão realmente as falhas. Consertar um lado, sem avaliar o outro, pode ser inútil ou até danoso para o todo.

Difícil também será dizer ao executor da obra “eu só quero gastar até 10 mil e nada mais”, sem avaliar o que precisa realmente ser feito. Fazer parte do necessário não será suficiente. O melhor é pedir primeiro um orçamento detalhado e só depois tentar adequá-lo às possibilidades de caixa, pedindo descontos, parcelamentos ou programando a obra em etapas que sejam coerentes e não sacrifiquem o resultado.

Em tempo de uso frequente de metáforas, passemos à Reforma da Previdência, que nada mais é que uma “casa que precisa ser arrumada para não cair”. Eis o que espero dos parlamentares que estão avaliando a proposta do governo: análise cuidadosa das medidas propostas e estudo de impacto que elas poderão provocar em todas as categorias de trabalhadores.

Que não se parta do princípio de que temos que economizar 1 trilhão de reais em 10 anos a qualquer custo. Que se avalie quais são os privilégios que possam ser extintos e não direitos básicos. Que se avalie qual categoria está perdendo mais com a proposta e que reverta isso caso a resposta seja os mais pobres e os mais necessitados.

Avaliar que qualquer pessoa pode trabalhar tranquilamente até os 65 anos é injusto, quando a maioria dos que irão tomar a decisão têm o privilégio de trabalhar não mais que uma dezena de anos e se aposentar. Ou que esse trabalho seja em condições de folgas remuneradas as segundas e sextas, dispensas em períodos diversos do ano, por inúmeras razões, viagens custeadas pelo empregador, oferta de vinhos e lagostas nas refeições.

Em que condições trabalha aquele que perderá mais com a reforma? Dificilmente será em situação análoga. Possivelmente terá uma jornada estressante de no mínimo 40 horas semanais, enfrentará diariamente trânsito dirigindo seu carro, ou disputando espaço em um ônibus, metrô, ou tudo isso junto. Passará o mês tentando esticar o salário para pagar suas contas, de água, luz, moradia, alimentação, saúde. Enfrentará filas para ser atendido em um hospital quando adoecer ou para matricular seu filho em uma creche ou escola.

É essa a distorção que precisa ser evitada, para que a casa não caia, bem em cima da cabeça do trabalhador.

domingo, 26 de maio de 2019

Conversa de escritores





Qual o papel do escritor contemporâneo? 
No meio da tarde do último sábado eu, uma pequena aprendiz de escritora, me vi participando de uma roda de conversas sobre esse tema com grandes escritores da cidade de Guarulhos. A discussão amigável, além da minha singela participação, foi desenvolvida por Alaercio Zamuner, Aline Araújo, César Magalhães Borges, professora Claudia Salvador, Francisco Grosso, Guilhermina Helfstein, Monique Martins, Mora Alves, Paulo José Carneiro Pires, Rogério Brito, Sérgio Rocha, Talita Salvador e Wagner Pires, com a mediação do professor Fabiano Fernandes Garcez, tudo isso no aconchegante Espaço Cultural Bola de Artes, de Adriana Mantovani.



A primeira questão levantada foi em relação ao significado do termo “contemporâneo” que costuma ser utilizado para autores que vivem ou viveram na mesma época ou para fazer referência a um período da história mundial. Houve um consenso que a questão abordava o papel atual dos escritores, sua responsabilidade e postura perante a sociedade.


Foi constatado um distanciamento desses escritores em relação, principalmente, aos jovens, pelo que seria uma possível “elitização” da literatura. Haveria um preconceito impregnado em determinados guetos, que estariam criando as suas formas de expressão próprias. Um exemplo disso seria uma das manifestações artísticas mais em moda, o Slan, que na verdade, na opinião de alguns dos autores não seria tão novo, por conter os mesmos elementos do repente.

Outro motivo para esse afastamento poderia ser o fato da leitura de um livro requerer tempo demais, uma dedicação maior, em uma época em que o consumo de ideias e informações nas redes sociais é quase que instantâneo.

E quanto a usar os meios contemporâneos? Isso faria do escritor um contemporâneo? Não bastaria utilizar ferramentas atuais, como o Twitter, por exemplo. O conteúdo e a forma da escrita é que precisariam ser atuais.

Encontrar uma linguagem atual para escrever seria, portanto, o maior desafio. Como achar essa nova linguagem? A solução ou a resposta seria o escritor romper fronteiras, sair do próprio gueto, ser um cidadão do mundo.

O papel do escritor contemporâneo seria transcender o papel!