Está em teste na Alemanha um
serviço que digitaliza cartas e as envia a seu destinatário por e-mail. Para isso a pessoa ou empresa que contratar o
serviço pagará uma mensalidade de aproximadamente 100 reais.
Acabei de ler a matéria na Folha
de SP com um misto de melancolia e inquietação. Há muito me entristeço com o
fato do avanço tecnológico nos ter afastado da magia de enviar e receber
cartas, embora tenha a noção de ser esse um fato inevitável e útil para a saúde
de nossas árvores, constantemente ameaçadas por um ritmo de extração
desenfreada.
A verdade é que acabei
substituindo o hábito de escrevê-las em papel e despachá-las em envelopes pela rápida
digitação na tela de um computador ou do celular, através dos aplicativos de
mensagens com disparo e recebimento praticamente imediatos. Seja qual for o
motivo, pessoal ou comercial.
Também é fato que há muito, o que
a maioria das pessoas e empresas recebem pelo correio nos dias de hoje são contas
para pagar, cobranças ou ofertas muitas vezes indesejadas. Apesar de vivermos
na era das contas digitalizadas, como já escrevi em artigo anterior, ainda
restam muitos desses papeis circulando por aí inutilmente. Grandes empresas
fazem hoje seus pagamentos através de transferências bancárias, tanto para
contas nacionais como ao exterior, mas, continuam a receber via correio uma
quantidade infinita de envelopes com faturas que muitas vezes nem abertos vão para uma
caixa de arquivo morto ou para reciclagem.
É claro que sempre poderá chegar pelo
correio um surpreendente resultado de um concurso, uma notificação de um
processo, o resultado de uma proposta de trabalho ou de prestação de serviços,
um comunicado importante e até uma carta de um amigo, por que não? Só que tudo
isso pode ser feito através da internet em muito menos tempo e mão de obra.
Desconfio do sucesso dessa “novidade”
de digitalização de correspondência, que talvez atenda às necessidades internas
dos alemães, mas, que para o mundo pouco
tenha a acrescentar. Ainda se substituísse realmente o envio da carta
fisicamente, poderia trazer algum ganho impedindo que o envelope tivesse que circular
pelas agências de triagem e ser encaminhado ao endereço físico, mas, não, isso
continuará a acontecer após a digitalização. Se o destinatário já estiver
ciente do conteúdo, o que o impelirá a abrir o envelope? Resultado: mais papel
inútil para reciclagem.
Finalmente resta a questão do
sigilo de correspondência. O próprio correio alemão já antecipa que não há como
eliminar o risco do conteúdo se tornar conhecido. Quem se habilita a se expor
dessa maneira e ainda pagar por isso?