domingo, 19 de setembro de 2021

O poema e a canção

    O que esperar de um encontro em que poetas, escritores, leitores e amantes de música discutem sobre poemas e canções? Muitos detalhes interessantes surgiram desse papo no XIII Encontro de Escritores e Leitores acontecido dia 17/09/2021 pelo Google Meet. Não deixe de checar as dicas que serão postadas ao final!

    Vale lembrar a origem da palavra poesia, “poíēsis”, do grego, que significa criação, obra poética. Falando de significados, costumeiramente ouvimos as pessoas usarem as palavras “poesia” e “poema” como sinônimos. Entretanto, enquanto poema é uma obra que usa palavras como matéria-prima, a poesia, além de ser um gênero de escrita, pode estar mais amplamente relacionada a outras criações, paisagens, fotografias, objetos etc.

    Algo parecido acontece com as palavras “música” e “canção”. A primeira sendo a arte de combinar os sons de maneira lógica e coerente, a canção sendo uma música com versos a serem cantados.

    No passado havia muitas manifestações artísticas em que a figura do poeta entoava canções de um jeito teatral, fazendo com que esses conceitos estivessem unificados. Em determinado momento há uma separação em que o poeta passa a ser aquele que escreve, mas não necessariamente declama ou canta. Os sonetos, por exemplo, que em italiano podem ser traduzidos como “uma pequena canção”, passaram a representar uma forma rígida, com dimensões métricas específicas para serem seguidas pelos poetas escritores. Quando se divorcia a poesia da música, o poeta passa a trabalhar no rigor da métrica.

    A partir dessa separação a poesia ganha ares acadêmicos, intelectuais, mas a canção popular fica rotulada como uma arte menor, algo extremante injusto. Quando novamente poesia e música se reaproximam é que a canção começa a recuperar o seu valor.

    Quando se faz música, normalmente se escreve uma letra para uma melodia, o contrário sendo mais raro. Será que toda letra de canção pode ser exibida como um poema? Será que todo poema pode ser transformado em canção? Não existe uma resposta definitiva para esse limite entre ser um e outro. O certo é que há vários poemas que se prestariam muito bem a compor uma bela música e que a letra de uma canção, separada de sua melodia, soaria muito bem quando apenas declamada.

    Muitos foram os exemplos trazidos para a roda. Tanto aqueles que transitam bem em ambos os lados, como aqueles que não se sustentam ora de uma lado, ora de outro.

    Será que a letra da belíssima canção de Jorge Bem Jor, W/Brasil(Chama o síndico), se sustentaria como poema?

“Alô,Alô!WoBrasil/Alô, Alô! W o Brasil/Jacarezinho!/Avião!/Jacarezinho!/Avião!/Cuidado com o disco voador/Tira essa escada daí/Essa escada é prá ficar/Aqui fora/Eu vou chamar o síndico/Tim Maia!/Tim Maia!/Tim Maia!/ Tim Maia!

    Já os poemas muito reflexivos, que dependem da forma em que são colocados no papel, da interpretação de quem lê, deixariam de lado esse recurso ao serem transformados em letra de música.

    Mas não podemos negar que existem letristas de músicas que são verdadeiros poetas. Noel Rosa, Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil são os mais lembrados. Da mesma forma existem poetas cujos poemas parecem pedir uma voz ou uma melodia. Dentre eles podemos citar Edgar Allan Poe, Manuel Bandeira, Guimarães Rosa, Castro Alves, Gonçalves Dias. Além disso, existem também compositores de músicas inspiradas em poemas. Foi Tom Jobim que, lendo Guimarães Rosa e contemplando a água de um riacho correndo após uma chuva, compôs “Águas de Março”. Há poetas que viraram letristas, como, por exemplo, Torquato Neto, que após se aventurar na poesia, se entregou de vez para a música. Alice Ruiz é poeta, haicaista e grande letrista.

    Seja qual for o gênero - poesia ou música - seja qual for a obra - poema ou canção - que sempre toque fundo nosso coração!

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