Durante os muitos anos trabalhados para uma determinada empresa, tive quase uma dezena de estagiários que deram suporte em algumas das muitas atividades de responsabilidade do setor que eu supervisionava. Era muito trabalho!
Posso dizer que sempre tive sorte ao encontrar jovens estudantes empenhados em aprender e colaborar comigo durante o período do contrato, salvo pouquíssimas exceções. A parte menos legal era que cada vez que um contrato se encerrava era necessário treinar outra pessoa. Conciliar as atividades diárias a esses treinamentos eram uma aventura.
Entretanto, uma preocupação que sempre tive foi de conhecer muito bem com quem iria trabalhar, saber qual seu perfil, seu grau de conhecimento, seus pontos positivos e negativos. Todo esse esforço resultava num melhor aproveitamento daquela força de trabalho, identificando quais atividades poderiam ser delegadas, quais deveriam ser acompanhadas mais de perto, etc.
Cada um desses estagiários tinha uma habilidade que poderia ser explorada, como por exemplo a facilidade de utilização de planilhas em Excel e outros sistemas, desenvoltura com o atendimento a clientes e fornecedores, organização, e assim por diante. As características pessoais também variavam, uns eram expansivos e se expressavam bem, outros mais tímidos, tinham mais dificuldades para interagir com a equipe.
Em resumo, eu tinha a preocupação de extrair deles o melhor para o andamento do trabalho e ao mesmo tempo oferecer a eles a melhor contribuição para o seu desenvolvimento durante o período do estágio e para o seu crescimento profissional .
O departamento pessoal da empresa também demonstrava uma preocupação com isso porque fazia avaliações periódicas. Era um momento muito importante em que parávamos e discutíamos o andamento daquele estágio, se os resultados estavam sendo os esperados ou não, o que poderia ser melhorado. Essa avaliação era muito importante e produtiva, pois, a cada período notava-se a superação de alguma dificuldade.
Já faz quase três anos que me afastei do ambiente empresarial, mas, o que me fez relembrar tudo isso foi uma história de estágio que não acabou muito bem. É de um jovem de 21 anos, contratado para estagiar em uma grande empresa. Por oito meses ele foi submetido a uma jornada de trabalho bem pesada e teve algumas dificuldades de adaptação. Sua superior estava visivelmente estressada e sobrecarregada. Não tinha tempo nem paciência para orientá-lo. Em nenhum momento ela se sentou com ele, olho no olho, para discutirem a situação. Não houve nenhuma avaliação, exceto a final, no dia em que ele foi precocemente desligado, sob a alegação de “falta de interesse em aprender”. Esse veredicto foi proferido em uma reunião pelo superior da chefe, que permaneceu calada e com a cabeça baixa.
O jovem, que já havia comentado com sua mãe que suspeitava que ela “não gostava dele”, um rapaz muito educado e um pouco tímido, não soube nessa única oportunidade que teve, externar a sua versão do que havia se passado. Embora não concordasse de forma alguma com a alegação de “falta de interesse”, porque tinha se esforçado realmente, sabia que seu desempenho não tinha sido adequado, mas, ficou tão chocado com aquela situação, que não foi capaz de se defender ou argumentar.
O resultado foi que saiu dali totalmente triste, decepcionado, com certa vergonha da avaliação que lhe tinham imputado e sem saber como contar isso à sua família e às pessoas que o acompanhavam e que torciam por aquela sua primeira experiência.
Apesar de conhecê-lo, ainda não falei com ele. Conversei com sua mãe, uma grande amiga, que estava sem saber o que fazer para ajudá-lo. Tinha medo que a experiência ruim o marcasse de uma forma muito negativa. Fiz o possível para mostrar a ela que talvez tudo possa ser revertido em aprendizado e que possa fortalecê-lo em uma próxima etapa.
Apesar disso, no fundo, fiquei com isso engasgado, por enxergar uma possível falha dessa profissional que, seja por qual motivo, não foi capaz de conduzir essa situação como deveria e da empresa que se manteve distante de todo o processo.
O que me diriam a respeito os colegas de recursos humanos ou os que já vivenciaram algo parecido?