segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Por decreto

No último dia de 2018 queria fazer um pedido especial àquele que assumirá à presidência amanhã: por favor, edite um decreto garantindo a todo brasileiro a posse de um trabalho, de uma educação e de um sistema de saúde dignos. 
Que o texto garanta ainda infraestrutura básica em todas as favelas, atividades esportivas e culturais disponíveis para todos os seus moradores. 
Que um dos parágrafos estipule administrações competentes nos presídios, impedindo o uso de celular, armas e drogas pelos detentos, fazendo com que trabalhem e estudem durante o cumprimento de sua pena e que a cumpram com tempo proporcional ao seu delito.
Que haja um trecho garantindo o fim das desigualdades no país, com a extinção de privilégios para determinados cargos e impedindo que poucos tenham o poder de estipular seus próprios rendimentos. A garantia por decreto de salário digno aos professores, médicos e policiais também será adequada.
Que o instrumento também exija de todos ações efetivas para a preservação de nosso meio ambiente.
Finalmente que haja um empenho geral, especialmente por parte dos governantes, em busca da paz.
Qualquer outro item de posse é dispensado.
Obrigada.
Feliz 2019! 

sábado, 29 de dezembro de 2018

Uma vida em contas


Estamos na era das faturas digitais – as árvores do planeta agradecem – mas há 20 anos era diferente. As pessoas costumavam acumular toneladas de papeis e seus comprovantes de pagamento, muitas vezes até acima do prazo estipulado por lei, em sua maioria cinco anos. Felizmente, a partir de 2009 as empresas ficaram obrigadas por lei a fazer constar em uma fatura a declaração de quitação dos anos anteriores, permitindo que se descartasse parte do volume acumulado. De uns anos para cá, aos poucos, os pagadores vêm sendo cada vez mais estimulados a receber apenas uma fatura digital, por e-mail ou via SMS.
Na casa de meu pai há um armário que estava repleto de caixas de documentos, os quais eu praticamente ignorava. Até que o próprio móvel resolveu dar uma forcinha pra minha memória: meses atrás a velha estante veio abaixo, praticamente me obrigando a dar um destino para tudo aquilo. Na época, a única atitude que tomei foi colocar as dez caixas de arquivo morto no carro e transferi-las para o quarto da bagunça aqui do meu apartamento.
Só agora, na última semana do ano, resolvendo tirar o nome “bagunça” desse cômodo, abri as caixas. Encontrei faturas e comprovantes de 1988 a 2005, organizados por dia, mês e ano. Contas de luz, telefone, internet, condomínio, mensalidade de faculdades, cursos, cartões de crédito, extratos bancários. Uma estranha sensação tomou conta de mim. Lembrei de todo o sacrifício que fiz para manter em dia aquelas contas, quantos malabarismos,  quantas vezes entrei no cheque especial, quantos empréstimos bancários e até no financeiro de lojas tive que contratar. Que infinidade de juros absurdos deixei nos cofres desses agentes financeiros! O cobertor era curto e eu ficava sacando de um lado para cobrir o saldo negativo do outro. Não foi nada fácil. Não que agora seja, mas, hoje estou um pouco menos sufocada e mais controlada nos gastos.
Havia faturas de cartão que tinham o nome de minha querida mãe, que aumentaram ainda mais a saudade que sinto dela. As contas telefônicas me lembraram das “broncas” que eu dava por ela falar demais com minha irmã ao telefone, de fixo para celular, o que jogava o valor lá para cima. Achei um processo de um salafrário que passou a conversa nela e lhe vendeu um purificador de água fajuto, para o qual eu deixei sete cheques pré-datados que ele descontou juntos, no mesmo dia. Tínhamos tantos problemas em casa que resolvi abafar o caso, para não deixá-la mais nervosa. Engoli o prejuízo e desisti de recorrer à justiça, também por falta de tempo, porque eu trabalhava em outra cidade.
Junto a um carnê da escolinha de futebol de meu sobrinho, achei um “contrato” firmado por ele quando tinha dez anos se comprometendo a estudar e a se comportar bem, para que eu bancasse a despesa. Achei um recado escrito à mão de meu pai para mim e uma carta minha para ele (como eu ficava a maior parte do tempo longe, era comum nos comunicarmos assim).
Ao rasgar todos aqueles documentos (guardei apenas o bilhete, a carta e o “contrato”) senti o peso dos anos nas costas e a constatação de que vivemos para pagar contas. Apesar disso, resolvi olhar também para o outro lado: ter tantas contas pagas significava que eu tinha tido moradia, telefone e acesso à internet (nem sempre havia sido assim), planos de saúde (que felizmente foram pouco utilizados ao longo de todo esse tempo), alimentação, vestuário, eletrodomésticos, carro, entre outras regalias que muita gente não tem. Além disso, se estavam pagas é que porque eu tive um salário fixo para arcar com todas elas. Tive o orgulho de amparar minha família quando foi necessário. Estava tudo ali, uma vida em contas, um privilégio de poucos pelo qual só tenho a agradecer a Deus.
Se você tem contas pagas, agradeça também. Se tem algumas em atraso, tenha fé em Deus e se prepare para o que ele lhe reserva.
Feliz contas em 2019!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Bate-Papo e Sessão de Autógrafos

06 DEZ | QUINTA-FEIRA
20h: Bate-Papo e Sessão de Autógrafos com a autora guarulhense Fátima Gilioli | Auditório 3 – Dom Quixote
Livro: Código 303 Uma reportagem sobre o alcoolismo, a doença da negação
Parque Linear Transguarulhense
Av. Transguarulhense – Parque Continental
Entrada Gratuita*
Obs.: ao final do bate-papo haverá sorteio de livros entre os presentes

sábado, 1 de dezembro de 2018

Atendimento especial


Sábado é dia de ficar em companhia de meu pai de 88 anos que tem Alzheimer. É um velhinho carismático, querido por todos, mas que precisa ter sempre alguém por perto. Pela manhã, preparei o café, separei os remédios que ele toma e resolvi dar uma corridinha rápida até o laboratório para entregar umas amostras para exames (aquelas que são uma chatice, mas, necessárias). Pensei comigo, “em no máximo vinte minutos vou estar de volta”.

Em menos de dez minutos cheguei lá e peguei a senha 82 (atendimento normal e não prioritário porque estava sozinha). Sentei-me e logo descobri que estavam atendendo a número 68. Incluindo as preferenciais o atendimento estava bem demorado. Observei que no papel já havia o aviso – previsão de atendimento em 28 minutos, apenas para a triagem.

Comecei a ficar aflita, pensando no meu pai sozinho. Fui até uma das atendentes e perguntei se para entrega de amostras a senha era a normal mesmo e ela me respondeu que sim. Voltei para a cadeira já pensando em desistir. Apesar disso, fiquei lá.

Após algum tempo, ainda preocupada, resolvi explicar minha aflição a elas, já me preparando para uma negativa, já que todos ali também deveriam ter motivos para querer ir embora rapidamente.
“Você me desculpe, mas estou preocupada com meu pai”, eu disse. “Ele tem Alzheimer e o deixei sozinho em casa”. A atendente olhou bem nos meus olhos e pareceu entender a situação: “Pode deixar, me dê o protocolo que te atendo, só não sei quanto tempo vai demorar para a enfermeira te chamar”.  Nessa hora, outra moça apareceu no balcão e ela agiu rápido. “Você pode levar as amostras dela?” “O pai tem Alzheimer e ficou sozinho em casa”. “Pode vir comigo”, ela ordenou. Agradeci imensamente às duas. Dois minutos depois eu já estava saindo de lá e correndo de volta para o apartamento.

No caminho fui pensando que nenhuma delas duvidou de mim um só instante. As duas agiram com uma rapidez inacreditável. Afinal, eu poderia ser uma dessas pessoas que adoram sair por aí furando filas. Lamentei, com a pressa, não ter perguntado seus nomes - grandes profissionais preparadas para atender os clientes com a dignidade que merecem.

Meus olhos se encheram de lágrimas no carro e também agora quando revolvi contar para vocês essa história.  

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Como transformar a educação com o uso da tecnologia?


Estimulada por uma publicação no Linkedin, decidi republicar uma dica adquirida em um workshop na Bienal do Livro deste ano. É especialíssima para professores ou para quem tenha interesse em conhecer técnicas de ensino utilizando as ferramentas da Microsoft.

Trata-se de uma comunidade onde você se cadastra gratuitamente e tem várias opções de cursos.  A duração desses cursos varia entre uma e três horas, dependendo do tópico. Alguns informam como usar ferramentas como o OneNote, Sway e Office Mix, enquanto outros tratam de assuntos mais pedagógicos que ensinam como integrar a tecnologia à instrução. No final sempre há uma avaliação que concluída renderá pontos para adquirir alguns certificados.

Já fiz vários e estou adorando!
Eis o Link da plataforma: https://education.microsoft.com/

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Um estágio mal sucedido

Durante os muitos anos trabalhados para uma determinada empresa, tive quase uma dezena de estagiários que deram suporte em algumas das muitas atividades de responsabilidade do setor que eu supervisionava. Era muito trabalho!
Posso dizer que sempre tive sorte ao encontrar jovens estudantes empenhados em aprender e colaborar comigo durante o período do contrato, salvo pouquíssimas exceções. A parte menos legal era que cada vez que um contrato se encerrava era necessário treinar outra pessoa. Conciliar as atividades diárias a esses treinamentos eram uma aventura.
Entretanto, uma preocupação que sempre tive foi de conhecer muito bem com quem iria trabalhar, saber qual seu perfil, seu grau de conhecimento, seus pontos positivos e negativos. Todo esse esforço resultava num melhor aproveitamento daquela força de trabalho, identificando quais atividades poderiam ser delegadas, quais deveriam ser acompanhadas mais de perto, etc.
Cada um desses estagiários tinha uma habilidade que poderia ser explorada, como por exemplo a facilidade de utilização de planilhas em Excel e outros sistemas, desenvoltura com o atendimento a clientes e fornecedores, organização, e assim por diante. As características pessoais também variavam, uns eram expansivos e se expressavam bem, outros mais tímidos, tinham mais dificuldades para interagir com a equipe.
Em resumo, eu tinha a preocupação de extrair deles o melhor para o andamento do trabalho e ao mesmo tempo oferecer a eles a melhor contribuição para o seu desenvolvimento durante o período do estágio e para o seu crescimento profissional .
O departamento pessoal da empresa também demonstrava uma preocupação com isso porque fazia avaliações periódicas. Era um momento muito importante em que parávamos e discutíamos o andamento daquele estágio, se os resultados estavam sendo os esperados ou não, o que poderia ser melhorado. Essa avaliação era muito importante e produtiva, pois, a cada período notava-se a superação de alguma dificuldade.
Já faz quase três anos que me afastei do ambiente empresarial, mas, o que me fez relembrar tudo isso foi uma história de estágio que não acabou muito bem. É de um jovem de 21 anos, contratado para estagiar em uma grande empresa. Por oito meses ele foi submetido a uma jornada de trabalho bem pesada e teve algumas dificuldades de adaptação. Sua superior estava visivelmente estressada e sobrecarregada. Não tinha tempo nem paciência para orientá-lo. Em nenhum momento ela se sentou com ele, olho no olho, para discutirem a situação. Não houve nenhuma avaliação, exceto a final, no dia em que ele foi precocemente desligado, sob a alegação de “falta de interesse em aprender”. Esse veredicto foi proferido em uma reunião pelo superior da chefe, que permaneceu calada e com a cabeça baixa.
 O jovem, que já havia comentado com sua mãe que suspeitava que ela “não gostava dele”, um rapaz muito educado e um pouco tímido, não soube nessa única oportunidade que teve, externar a sua versão do que havia se passado. Embora não concordasse de forma alguma com a alegação de “falta de interesse”, porque tinha se esforçado realmente, sabia que seu desempenho não tinha sido adequado, mas, ficou tão chocado com aquela situação, que não foi capaz de se defender ou argumentar.
O resultado foi que saiu dali totalmente triste, decepcionado, com certa vergonha da avaliação que lhe tinham imputado e sem saber como contar isso à sua família e às pessoas que o acompanhavam e que torciam por aquela sua primeira experiência.
Apesar de conhecê-lo, ainda não falei com ele. Conversei com sua mãe, uma grande amiga, que estava sem saber o que fazer para ajudá-lo. Tinha medo que a experiência ruim o marcasse de uma forma muito negativa. Fiz o possível para mostrar a ela que talvez tudo possa ser revertido em aprendizado e que possa fortalecê-lo em uma próxima etapa.
Apesar disso, no fundo, fiquei com isso engasgado, por enxergar uma possível falha dessa profissional que, seja por qual motivo, não foi capaz de conduzir essa situação como deveria e da empresa que se manteve distante de todo o processo.

O que me diriam a respeito os colegas de recursos humanos ou os que já vivenciaram algo parecido?

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Comédia ou tragédia




A absurda ameaça de proibição do uso da palavra “gênero” na rede de ensino me fez lembrar o caso de uma funcionária da área de câmbio de uma grande empresa, que foi repreendida por seu chefe ao mencionar em e-mail o termo “esquema de pagamento”.

Estava em curso um projeto de Governança Coorporativa e seu superior julgou-o pejorativo e passível de suspeição por parte dos auditores. Antes que alguém interprete da mesma forma, saiba que ele sempre existiu no sistema do Banco Central e deveria ser gerado após o registro de uma operação financeira, cuja sigla é ROF.

A garota começou a quebrar a cabeça para encontrar uma forma de substituir o termo, pensando em usar “agenda, programação  ou cronograma de pagamento”, porém, não lhe parecia conveniente nem necessário alterar algo que era oficial do sistema. Por coincidência ou não, acabo de constatar que o BACEN recém divulgou um novo manual em que substitui “Esquema de pagamento” por “Cronograma de Pagamento”.

Antes de voltar ao assunto principal desse artigo, lembro-me também de um colega de trabalho que não permitia que seu estagiário usasse “eu acho…” para responder aos seus questionamentos. O jovem passou então a recorrer a “eu penso que…”.

Minha mãe também não gostava que pronunciássemos a palavra “câncer”. Queria que disséssemos “aquela doença” ao falar do estado de saúde de alguém com essa enfermidade.

No filme Harry Porter, havia um vilão tão perigoso que em vez do nome era chamado por  Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

Voltando agora ao “gênero”, na hipótese dessa loucura ir adiante, fico pensando em como o professor de português poderá explicar a classificação e a concordância dos artigos e substantivos dos gêneros feminino e masculino, ou como fará para abordar os gêneros literários, lírico, narrativo, dramático, etc. De que forma  o professor de biologia poderá discorrer sobre os gêneros de plantas suculentas, carnívoras ou ranunculus?

A utilização desse termo é tão variada que nem dá para citar todas as dificuldades em que se encontrarão nossos professores para exercer o seu ofício já tão cheio de obstáculos. Uma vez que poderão vir a ser filmadas, será que teremos que passar as aulas para o gênero “comédia” ou “tragédia”?


sábado, 10 de novembro de 2018

Revisar é necessário


Produção de conteúdo parece ser uma necessidade desesperada de quem frequenta assiduamente as redes sociais. Especificamente no Linkedin, as pessoas são estimuladas pelos influenciadores a publicar suas ideias, expor suas teses sobre assuntos que dominam, sobre suas carreiras ou experiências de vida. Nada contra, muito pelo contrário, acho que os posts nos induzem a refletir sobre variados assuntos, sendo um exercício para quem produz e para quem consome, comenta ou apenas reproduz em sua timeline.

De vez em quando me arrisco nessa empreitada, na maioria das vezes reproduzindo o conteúdo de meu blog, que criei a partir de uma vontade de exteriorizar tudo o que me toca no coração ou na alma, positiva ou negativamente (dou sempre preferência à primeira forma).

Na verdade, até o momento, nessa rede posso ser classificada muito mais como consumidora desses conteúdos do que produtora. Tenho acompanhado muitos assuntos discutidos e interagido com curtidas e comentários, de acordo com meu interesse ou conhecimento sobre o tema.

Certa vez, assisti a um filme cuja protagonista trabalhava como revisora. O enredo era sobre um drama pessoal que ela enfrentava, mas, o detalhe era que ela passava diariamente em uma floricultura e ficava parada em frente, olhando para a placa da loja. Depois ela entrava e comprava flores (esse ato fazia parte do drama que vivia e não vem ao caso). A questão é que ela acabava desenvolvendo uma relação com o dono da floricultura e numa certa altura, quando se tornavam mais íntimos, a placa já aparecia corrigida – havia um erro de grafia que tanto a incomodava e que ela revisara, em meio a todo o seu drama pessoal.

Deixando de lado o tema central do filme, acabei me identificando com a personagem, pois, como revisora, por mais que não queira, acabo encontrando e me apegando aos erros de português que muitas vezes insistem em aparecer na minha frente.

O maior problema é que talvez, com essa corrida para produzir sempre mais e mais conteúdo, as pessoas estejam deixando de se preocupar com a qualidade do texto, que vem aparecendo com um número exagerado de erros grotescos, demonstrando um desleixo com o português e com as normas da escrita.

Outro dia li uma matéria no Linkedin de uma jovem que eu havia conhecido pessoalmente dois anos antes por acaso. Encontrei um pequeno deslize em seu texto e a avisei por mensagem. Ela corrigiu imediatamente e respondeu agradecida. Fiquei feliz por poder ajudar. Desde o início havia simpatizado com ela e passei a torcer pelo seu desenvolvimento profissional.

Nem sempre minhas intervenções voluntárias são bem aceitas, mesmo sendo feitas no particular e com a máxima delicadeza e discrição possíveis.

Dias atrás recebi um convite para curtir uma página no Facebook de uma empresa recém-criada, por outro jovem conhecido. Assim que entrei na página localizei um trecho na apresentação que incorretamente separava o sujeito do verbo com uma vírgula. Dizia algo parecido com: “a empresa X (,) surgiu para…”. Respondi a mensagem parabenizando-o pelo novo negócio e aproveitei para mencionar a necessidade de correção daquele trecho, excluindo a vírgula mal colocada. Ele já visualizou minha mensagem, mas, até o momento não respondeu e nem reeditou o perfil. É possível que esteja sem tempo ou que não dê tanta importância para o fato, uma vez que almeja clientes no campo da publicidade (queria inserir aqui aquele emoji de espanto).

Recentemente, dei uma lida em alguns posts e encontrei um sobre um tema que julgo interessante, mas, o autor escreveu “chancer” em vez de “chances”, sexta-feira sem o hífen e apresentou outros problemas de concordância que prefiro não citar para não correr o risco de expô-lo indelicadamente. De forma alguma tenho essa intenção.

Meu objetivo é apelar para o bom senso desses produtores, para que cuidem com um pouco mais de carinho do seu texto, revisando com cuidado e protelando a postagem, se for necessário.

Finalizando, se alguém encontrar algum deslize em meus textos (sim, eu também erro! rsrs), fique à vontade para me corrigir, de preferência Inbox, por favor. Vou ficar feliz e agradecer imensamente.

sábado, 27 de outubro de 2018

O diário de Anne Frank


Embora eu seja apreciadora das artes em geral, tenho que confessar que algumas vezes abdico do direito de apreciar um filme, uma peça, uma novela, um livro, só pelo impacto que imagino que ele poderá causar em mim.

Um excelente exemplo pode ser aquela versão da Paixão de Cristo criada por Mel Gibson. Só em ver os trailers e ler os comentários na época em que foi lançado, decidi que não queria assisti-lo de forma alguma, em virtude do excesso de violência que as imagens traziam. Ainda mais que, desde criança sempre tive uma reação curiosa quando assistia às versões anteriores desse trecho do evangelho. Por mais que saiba da morte de Cristo crucificado, toda vez que chega naquela parte em que Pilatos pergunta ao povo se deve libertar Jesus ou Barrabás, ainda torço para que escolham Jesus.

Para que possam me entender melhor, cito outro exemplo um pouco diferente: quando li o livro “Marley & eu” tive acessos de choro tão profundos quando chega a hora da morte do cão, que tive que interromper a leitura por várias vezes, para me recompor e ao final tinha os olhos todos inchados e o rosto tão abatido que parecia ter saído mesmo de um velório. Então, quando lançaram o filme, decidi não ir ao cinema, já imaginando o mar de lágrimas que tomariam conta de meus olhos e a cara que ficaria quando acendessem as luzes.

Pelo mesmo motivo, até hoje, não tinha lido o Diário de Anne Frank. Como é uma história muito comentada e verídica, achei que não queria conhecê-la a fundo, para não me abalar tanto. Li “A menina que roubava livros” e já pude ter uma noção da dor embutida nessas narrativas.

Pois foram os tempos que estamos vivendo, com uma ameaça no ar de agressão à democracia e do medo que surge lá no fundo de que episódios tão obscuros como os que aconteceram no passado possam ressurgir, me fizeram recorrer à leitura justamente do “Diário de Anne Frank” (já tenho em mãos outro título, que também havia excluído de minha lista de leitura,  “O menino do pijama listrado”, para ler na sequência).

A um dia do segundo turno das eleições para presidente, estou na metade do livro de Anne, cujo desfecho, ao contrário do das eleições, conheço bem, mas, temo que chegue.  O desfecho do livro não há como mudar, já está escrito. Das eleições, nós escreveremos amanhã.

domingo, 21 de outubro de 2018

Ponteiros, informações, opiniões

O domingo começou estranho para mim, assim como deve ter sido para outras pessoas. Acordei às 8h pelo despertador do celular, mas, no relógio da sala ainda eram 7h. Estava sonolenta por ter dormido pouco, em virtude de uma barulheira danada feita por uma vizinha mal educada, que recebeu em seu apartamento até altas horas visitas igualmente deselegantes, capazes de ficar falando alto, rindo, gritando em uma casa alheia até às 5h, ou seriam 4h, sei lá.
O porteiro me contou que chegou para render o colega às 4h, pensando que eram 5h e a dona da padaria abriu as portas às 5h pensando serem 6h, sentindo falta dos clientes costumeiros das primeiras horas.
Tudo isso aconteceu porque alguém agendou o inicio do horário de verão para hoje, 21/10/2018, se esquecendo de reprogramar para 04/11/2018, como  posteriormente anunciado pelo governo.
Tempos muito estranhos esses, de desencontro de ponteiros, de informações, de opiniões.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Minhas duas orquídeas –parte II



Volto a contemplar minhas orquídeas e elas continuam lá, mais lindas do que nunca. Tento captar essa energia boa, essa beleza que a natureza nos oferece sem quase nada em troca – só respeito.
Nos últimos dias tenho recebido muitas mensagens de amigos que se dizem angustiados com a perspectiva do resultado das eleições e muito mais com a posição tomada por pessoas queridas deles. Alguns têm tentado, sem sucesso, convencê-los a mudar de lado e é a negativa, muitas vezes acompanhada de palavras duras, ofensivas mesmo, é que doe muito nelas.

Toda vez que eu ouço ou leio esses lamentos, entendo muito bem porque também tenho experimentado esse tipo de decepção e de tristeza. Meu conselho é agir como eu, que tenho tentado não confrontar pessoas que pensem diferente de mim. Não que eu tenha cortado relações com essas pessoas, mas, desde o início do processo eleitoral venho gastando cada vez menos tempo nas redes sociais.

Tenho postado ou reencaminhado textos que traduzem a minha opinião, mas, não comento aqueles que vejo em sentido contrário e procuro não perder tempo com vídeos, áudios, frases com conteúdo agressivo ou de baixo nível. Se recebo algum comentário contrário a minha linha de pensamento, respondo apenas uma vez, tentando argumentar com objetividade e mansidão, abdicando das polêmicas.
Essa estratégia de me preservar emocionalmente tem funcionado. Ao mesmo tempo, tenho me preparado para o resultado, seja ele qual for. De lá para cá, intensifiquei as minhas orações, por entender que só o contato diário e intensivo com Deus pode nos fortalecer e nos amparar.

Digo isso às pessoas, “rezem”, mas, às vezes, acaba soando meio chavão. Não é. Peço que todos acreditem que o Brasil está realmente precisando muito de oração, sincera, pura, seja de que lado venha. Façamos uma corrente de oração, não pedindo que ELE dê a vitória para um ou para o outro, mas, que ilumine as pessoas em suas escolhas, para que escolham o que é melhor para o Brasil neste momento, para que pensem no evangelho como exemplo de vida e em como Jesus Cristo se posicionaria se estivesse na terra. 
Espero que não se amargurem tanto com o que pode estar por vir, porque de qualquer forma, Deus estará do nosso lado. Que ELE nos ajude a transformar tudo isso que estamos vivendo em um ensinamento bom, que nos permita crescer, como eleitores e como seres humanos e que possamos valorizar cada vez mais a vida e a paz.
Independentemente de quem vencer, não foi minha opção no primeiro turno. Já tomei minha decisão sobre como votar no segundo, mas, desta vez não irei declará-la. Não me orgulho dela. “Que vença o melhor” eu não posso dizer, porque para mim a melhor já ficou para trás. Então, que vença aquele que possa trazer algo de bom para o Brasil, para o mundo, que possa como eu já disse nos trazer um ensinamento, seja ele suave ou doloroso. E que a beleza das orquídeas nos contagie e nos faça sentir melhor.



sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Minhas duas orquídeas




Difícil explicar o que senti quando vi minhas duas orquídeas cheias de botões e uma flor já desabrochando em cada uma delas. Passados alguns dias do primeiro turno das eleições brasileiras, cujo resultado me abateu duramente, a ponto de me deixar sem palavras, já um tanto recuperada, penso: que lição está me dando a natureza, que mágica, que beleza singela e sublime!

Decido, então, dedicar essa imagem à amiga Marina, a qual me permito chamar assim, ainda que não a conheça pessoalmente. Minha admiração por ela cresceu enquanto eu apoiava sua campanha e me permitia sonhar com um futuro melhor para o meu país. Durante esses dias fiquei tentando imaginar como estaria seu coração, após ter sido humilhada com uma inesperada e desesperada fuga de votos. Um movimento totalmente ineficaz e desnecessário.

Se tivessem imaginado logo no início que tamanha cegueira se instalaria em quase 50 milhões de brasileiros, que numa espécie de transe, passaram a venerar alguém tão desqualificado quanto mal intencionado, talvez tivessem planejado uma reação mais efetiva, com maiores chances de sucesso. Teriam unido forças em torno de uma única candidatura de centro, com equilíbrio e lucidez, capaz de enfrentar essa epidemia.

Entretanto, ninguém sabia que essa onda poderia vir com tanto poder de devastação. Eu continuo me perguntando: para onde foi o amor, a fraternidade, o respeito ao ser humano e à vida, o desejo de paz, a opção pelo diálogo, a compaixão, a preocupação com o meio ambiente e a natureza, a fé?

Como pudemos nos deixar encurralar desta maneira? Permitir que no segundo ato dessa peça de horror que o destino nos pregou, nos encontremos fadados a aceitar a cultura do ódio, do preconceito e do vale-tudo nas redes sociais, ou passar para o lado da cultura da corrupção explícita, negada até as últimas instâncias. Há uma saída? Talvez, mas, ainda não consigo dar essa resposta. O ato de Pilatos também se apresenta entre as opções disponíveis.  Não sei.

sábado, 22 de setembro de 2018

Viva a primavera!

“Deixe que a vida faça contigo o que a primavera faz com as flores” dizia uma figurinha que recebi hoje pela manhã pelo whatsApp. Logo depois pude comprovar esse poder da nova estação que chega, indo para a banca de jornal buscar o “Notícias Já”, que procuramos comprar todos os dias para estimular a leitura de meu pai, que tem Alzheimer. Na rua entre a padaria e a banca existe uma amoreira. Ela está na calçada, em frente a uma casa, e todos os anos dá frutos durante o verão.
Quando me aproximei da árvore, não acreditei na quantidade de amoras, vermelhinhas ali disponíveis, à altura da minha mão. Fiquei por alguns minutos saboreando aquelas maravilhas. Mesmo sabendo que ela dará frutos durante um longo período, sei que nem sempre será possível tê-los tão acessíveis, pois, depois que todos descobrirem esse milagre da natureza, a concorrência será grande e tornará mais escassos os frutos mais baixos.
Peguei uma, huuumm que delícia, outra e mais outra, tomando o cuidado de não acabar com todas, pensando nas outras pessoas que passariam por ali e como eu, poderiam se fartar daquela gostosura.
Obrigada, Primavera, por essa surpresa deliciosa que nos proporciona. A natureza nos faz mais felizes através de você. Que pena que nem sempre nós a tratemos da mesma forma.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Que brasileiros são esses?


Que brasileiros são esses que têm manifestado intenções de voto, respectivamente, em um candidato visivelmente despreparado para governar o país, com ideias retrógradas e até certo ponto assustadoras e em outro, vinculado a um presidiário ficha-suja e a um partido atolado em denúncias de corrupção?

Será que não sabem que o país necessita de competência, de preparo, de um programa de governo bem estruturado e que contenha estratégias para solucionar os graves problemas que vimos há tempos enfrentando diariamente, cada vez com maior intensidade?

Será que não enxergam que precisamos de propostas reais para tratar a Saúde, que agoniza nos corredores dos hospitais, desaparelhados, com paredes sujas de bolor, com tetos a ponto de despencar na cabeça dos médicos, enfermeiros e atendentes que em números insuficientes, mal remunerados e sem as mínimas condições de trabalho, resistem por amor à profissão, por compaixão aos pobres doentes ou aos doentes pobres?

Por que não compreendem que é preciso ter planos para reestruturar a Educação, fazendo-a de qualidade e instrumento de avanço em todas as demais áreas, melhorando o nível dos professores, com maiores salários, capacitação e inovação?

Por que não entendem que o caminho para o combate à violência e ao tráfico de drogas necessita de uma proposta de unificação e estruturação das polícias e de um trabalho sério de inteligência e não de enfrentamento irresponsável?

Por que não buscam alguém que se preocupe verdadeiramente com o meio ambiente e com o desenvolvimento sustentável?

Por que não escolhem os que declaram sua real preocupação em combater a corrupção, para que reapareçam os recursos necessários à execução de todas essas melhorias?

Que brasileiros são esses? Que intenções são essas? Que pesquisas são essas?




sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Independência. Será que ela aconteceu mesmo?


Hoje é feriado no Brasil, dia de comemorar nossa independência, “supostamente“ proclamada em 07 de setembro de 1822. Dia de desfile oficial nas principais ruas das cidades, com o envolvimento dos militares apresentando suas bandas, seus carros e armas de guerra e das escolas, mostrando suas fanfarras e balizas. Todos impecavelmente uniformizados e determinados a comemorar a conquista.
Impossível esquecer que hoje também faz cinco dias que perdemos o Museu Nacional do Rio de Janeiro, incinerado pela incompetência daqueles que dele deveriam cuidar, sejam eles gestores, diretores, reitores, secretários, ministros, presidentes, em exercício da função ou que já passaram por ela.
Outro fato que não pode deixar de ser citado aconteceu ontem, o atentado a um candidato à presidência da república, que foi repudiado pela maioria e com seus desdobramentos e investigações ainda em curso.
A um mês do primeiro turno das eleições deste ano, esses fatos acabam interligados por suas simbologias. Sim, nos libertamos de Portugal há 196 anos, mas, continuamos presos a uma sociedade desorientada, violenta e doente, a poderes corruptos e insensíveis a tudo que não seja de interesse próprio. Temos uma democracia, é verdade, que, porém, precisa se aprimorar, se intensificar, atingir a um maior número de pessoas, com igualdade de direitos e de obrigações.
Podemos fazer muito mais para melhorar esse cenário, todo o dia, com retidão em nossas ações, para que elas sejam coerentes com nossas expectativas de melhoria geral, com esmero na escolha de nosso voto para deputados, senadores, governador e presidente. E seja qual for o resultado, que sigamos acompanhando, cobrando, participando de alguma forma para um dia chegarmos à libertação plena. É possível, temos que acreditar.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Qual foto você escolhe?




E então? Qual imagem escolhe?
Acredite, as duas foram tiradas no mesmo local, um terreno que fica próximo ao apartamento do meu pai, em Campinas.

Durante muito tempo, sempre que eu chegava lá, ficava com meu coração apertado quando avistava do meu lado direito esse monte de lixo que aparece em uma das fotos. Um desses “pontos viciados” onde seres que não consigo nomear despejam todo o tipo de sujeira. Mas alguém poderia me perguntar: nesse bairro não tem coleta de lixo? Tem. Toda terça, quinta e sábado. Então por que fazem isso? É o que eu ficava sempre me perguntando.  A prefeitura passava pra limpar de vez em quando, mas, não durava muito.

Olhando para o lado oposto, eu avistava esse lindo jardim, cultivado por uma moradora, dona Leonor. Ela passava horas do dia mexendo na terra, plantando, embelezando cada dia mais o “seu” lado do terreno. Nesse momento eu pensava: Nosso mundo é assim, tem gente pra sujar, mas, felizmente, também tem gente pra cuidar, pra embelezar.

Recentemente fiquei muito triste ao descobrir que haviam destruído tudo, todas as plantas foram arrancadas e o terreno começou a ser cercado com arame pra construção de um prédio.

Pensei na dor que dona Leonor deveria estar sentindo. Assim que a vi, perguntei a ela se não estava triste. Ela me respondeu que só tinha ficado na hora que os homens estavam destruindo tudo. Deve estar conformada porque seu coração é bondoso, bonito como era seu jardim.

 

domingo, 12 de agosto de 2018

Serestando na Bienal







Fechando com chave de ouro esses dias de Bienal, a doçura da seresta da Cia. Lira dos Anjos. As pessoas selecionavam as canções de uma lista e se posicionavam na janela para se deliciar com a apresentação dos músicos: Carinhoso, Trem das Onze, Eu te amo e muitas outras. Não havia quem não acompanhasse a cantoria.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Queijos brasileiros à mesa



Uma deliciosa degustação de queijos brasileiros e de suas particularidades foi o que pude experimentar hoje no espaço Cozinhando com as Palavras, na Bienal do Livro de São Paulo.
Um dos objetivos era a divulgação do livro “Queijos brasileiros à mesa com cachaça, vinho e cerveja”. Entretanto, o mestre-queijeiro Bruno Cabral foi muito além disso, trazendo luz para um produto brasileiro cujo mercado vem evoluindo a olhos vistos, mas, que ainda é uma certa novidade entre os leigos como eu.
Na plateia fomos convidados a provar cinco tipos de queijos brasileiros, começando com o Canastra, passando por um queijo de cabra premiado e outros de sabor mais forte.
O sommelier  Manoel Beato trouxe a importância da harmonização de queijos não apenas com vinhos, mas também com cerveja e cachaça.
Em resumo, foi uma saborosa experiência que com certeza me fará sair do lugar comum em termos de consumo de queijo. Pena que eu não fui uma das três pessoas que ganharam por sorteio um dos produtos apresentados no evento.


Áudios livros por Whatsapp, uma forma de ler para o mundo


Você gostaria de ler mais, mas, está sem tempo para isso? Que tal participar de um grupo de Whatsapp em que outra pessoa vai te passando áudios com aproximadamente 10 minutos de leitura de um livro de sua preferência, gravados sequencialmente? Essa foi a ideia de Rodinaldo Alves dos Santos, o Rodi, chamado carinhosamente de professor Pardal pela organizadora da mesa-redonda de hoje à tarde, no espaço Papo de Mercado, da Bienal do Livro de SP. Segundo ele, adquiriu o hábito de gravar suas leituras e começou a estimular outras pessoas a fazê-lo para poder disponibilizar os áudios. Desta forma, ele diz “acabo lendo por encomenda títulos que jamais escolheria e vou me surpreendendo com o conteúdo deles”.
Carli Cilene Cordeiro, segunda participante da mesa, achou muito interessante a ideia e disse que irá utilizá-la em seu projeto de leitura na empresa Porto Seguro, onde é responsável pela Biblioteca Coorporativa. Orgulhosa do projeto que se iniciou há 25 anos em uma pequena sala onde havia mais DVDs para serem retirados pelos funcionários do que livros e hoje tem uma sede própria com um grandioso acervo para variados tipos de leituras técnicas ou de lazer, ela destaca ainda o papel atuante da profissão de bibliotecário nos dias de hoje.
Quando foram abertas as perguntas da plateia, a ideia foi aprovada por praticamente todos os presentes, tendo alguns se prontificado a fazer parte dos grupos de geração dos áudios livros como leitores e ouvintes. Um deles, Jose Luiz Mamede se disse entusiasmado ao  lembrar imediatamente de seus quatro primos e um cunhado que vivem em Água Fria, no interior da Bahia, deficientes visuais. Conta ter adquirido o hábito de gravar leituras de livros para eles com um velho gravador e que agora passaria a usar o Whatsapp com certeza.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Depressão e Suicídio foram temas de debate na Bienal


A experiência de a partir dos 10 anos de idade ver sua mãe tentar o suicídio inúmeras vezes levou Karina Fukumitsu a se formar em Psicologia e a se especializar em métodos de prevenção a esse mal.

Para o padre Lício de Araújo Vale foi a perda do pai por suicídio que o levou a, além do sacerdócio, acolher e orientar pessoas que estejam depressivas a ponto de quererem tirar a própria vida.

Marcelo Zorzanelli, o terceiro a compor a mesa de debates, revela-se ele mesmo uma pessoa depressiva há muitos anos, o que o levou a escrever sobre o tema inicialmente em uma coluna da Folha de S.Paulo, atividade que passou a ser uma de suas formas de terapia.

Foi através dos relatos desses três convidados que se abordou esses temas tão importantes e dolorosos, ao mesmo tempo que vinculados a  preconceito e discriminação pela maioria das pessoas.

O que levaria as pessoas, muitas vezes os adolescentes, a sofrer de depressão e chegar a pensar em desistir de viver?

Na opinião de Marcelo a questão é quando o indivíduo sente que não se encaixa no padrão estabelecido pela sociedade, da busca de sucesso e felicidade a qualquer custo. Sentindo-se fora desse padrão, vem a tristeza e a culpa.

Karina afirma costumar dizer que “se quiser entrar em uma forma, perde-se a forma”.

Quais seriam os sinais de que algo está errado?

Os três são unanimes em afirmar que uma mudança abrupta no comportamento, isolamento, falta de apetite, menção a casos de suicídio, mensagens indiretas como frases do tipo “não suporto mais”, “isso tudo vai acabar”, “eu gostaria de sumir”, tudo isso pode ser motivo de alerta.


Diante de uma situação como essa, segundo eles, os pais não podem ter medo de perguntar. Não achar, como pensam alguns erroneamente, que falar sobre o assunto pode estimular alguém. Além disso, os pais precisam dedicar tempo aos filhos. Ficar perto, participar da vida do filho, fazer com que olhe para sua própria dor e tenha compaixão de si mesmo. Se permita ficar triste acreditando que tudo é passageiro.

Eles ainda lembram que jamais se deve minimizar o sofrimento alheio. Deve-se saber ouvir e sempre estimular uma pessoa depressiva a procurar um profissional de saúde mental.

Citando Carlos Drumond, Karina lembra: “a dor é inevitável. O sofrimento é opcional”.


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Batendo bola na Bienal

Um funil cada vez mais estreito foi a comparação feita para explicar o resultado da Copa da Rússia. Os times muito nivelados e com futebol disputado em parcela cada vez menor do campo seriam os fatores determinantes de sucesso ou fracasso dos times.
Foi em meio a lembranças engraçadas de quando se conheceram que Juca Kfouri e Paulo Vinicius Coelho, o PVC, responderam às perguntas da plateia presente ontem no Salão de Ideias da Bienal, fazendo suas análises sobre o nível atual do futebol brasileiro. 
A falta de investimentos concretos no esporte, a desunião entre os clubes e suas más administrações foram apontados como as principais razões para o desempenho brasileiro insatisfatório.
A respeito do jornalismo esportivo, os dois palestrantes lamentaram a crise que tem acabado com publicações especializadas, não apenas sobre esportes, citando o recente e lamentável anúncio do fechamento de 10 revistas da Editora Abril.
Lamentando o legado de dívidas da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil, lembraram que a corrupção, infelizmente, existe em todos os setores e não somente no campo esportivo.


De netos sobre avós

Uma deliciosa conversa entre netos de avós imigrantes aconteceu em um dos espaços da 25ª Bienal do Livro. Eles eram Caco Ciocler e Marcelo Maluf, autores respectivamente dos livros Zeide, A Travessia de um Judeu entre Nações e Gerações, da Editora Planeta e A Imensidão Íntima dos Carneiros, da Editora Reformatório.
De acordo com Caco, sua primeira experiência como autor nasceu de um convite da própria editora que queria novos autores que fossem netos de imigrantes. De seu avô ele apenas se lembrava de pequeno, circular a cadeira sorrateiramente e dar um leve tapa na careca do Zeide, como ele o chamava. Era um tipo de ritual que se repetia sempre que se viam.
Sabendo pequenos trechos de histórias, contadas rapidamente por seu pai e por seus tios, ele desenvolveu sua narrativa baseada nos fatos reais de sua família, porém, com lacunas preenchidas por sua imaginação, por instinto, como ele diz.
Embora não tenha conhecido seu avô, após a morte de seu pai, Marcelo se sentiu induzido por um sonho recorrente com o antepassado imigrante, a mergulhar na história de um segredo de família, uma tragédia guardada por Assaad Maluf, que vindo do Líbano em 1920, trouxe uma dor que acabou passando para as gerações futuras.
Quem quiser saber mais sobre essas duas aventuras literárias, o evento se repetirá na Bienal no próximo domingo. Eu recomendo.

Autora de primeira viagem estreia na 25ª Bienal


Para um livro que começou a ser escrito há 20 anos, supreendentemente depois que resolvi finalmente publicá-lo, o "Código 303, uma reportagem sobre o alcoolismo, a doença da negação", está tendo a sua estreia com grande pompa, pois, está na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Está sendo uma experiência incrível circular por aqueles corredores repletos de amantes da leitura ou iniciantes na arte de adquirir livros.
Falar sobre alcoolismo num evento onde a maioria vai pra passear, curtir as atividades culturais, não é tarefa fácil. Confesso que no início fiquei com um pouco de receio. Aos poucos fui encontrando uma forma de abordagem um pouco descontraída, mas, dando meu recado, falando sobre essa doença e chamando atenção para como ela está sendo tratada no livro.
Imaginem a minha felicidade quando consegui a minha primeira leitora! Ela é assistente social e trabalha com filhos de dependentes de álcool. Mereceu uma foto e um autógrafo especial.