A absurda ameaça de
proibição do uso da palavra “gênero” na rede de ensino me fez lembrar o caso de
uma funcionária da área de câmbio de uma grande empresa, que foi repreendida
por seu chefe ao mencionar em e-mail o termo “esquema de pagamento”.
Estava em curso um projeto
de Governança Coorporativa e seu superior julgou-o pejorativo e passível de
suspeição por parte dos auditores. Antes que alguém interprete da mesma forma, saiba
que ele sempre existiu no sistema do Banco Central e deveria ser gerado após o
registro de uma operação financeira, cuja sigla é ROF.
A garota começou a quebrar a
cabeça para encontrar uma forma de substituir o termo, pensando em usar “agenda,
programação ou cronograma de pagamento”,
porém, não lhe parecia conveniente nem necessário alterar algo que era oficial
do sistema. Por coincidência ou não, acabo de constatar que o BACEN recém
divulgou um novo manual em que substitui “Esquema de pagamento” por “Cronograma
de Pagamento”.
Antes de voltar ao assunto
principal desse artigo, lembro-me também de um colega de trabalho que não
permitia que seu estagiário usasse “eu acho…” para responder aos seus
questionamentos. O jovem passou então a recorrer a “eu penso que…”.
Minha mãe também não gostava
que pronunciássemos a palavra “câncer”. Queria que disséssemos “aquela doença” ao
falar do estado de saúde de alguém com essa enfermidade.
No filme Harry Porter, havia
um vilão tão perigoso que em vez do nome era chamado por Aquele-que-não-deve-ser-nomeado.
Voltando agora ao “gênero”,
na hipótese dessa loucura ir adiante, fico pensando em como o professor de
português poderá explicar a classificação e a concordância dos artigos e
substantivos dos gêneros feminino e masculino, ou como fará para abordar os
gêneros literários, lírico, narrativo, dramático, etc. De que forma o professor de biologia poderá discorrer sobre
os gêneros de plantas suculentas, carnívoras ou ranunculus?
A utilização desse termo é
tão variada que nem dá para citar todas as dificuldades em que se encontrarão
nossos professores para exercer o seu ofício já tão cheio de obstáculos. Uma
vez que poderão vir a ser filmadas, será que teremos que passar as aulas para o
gênero “comédia” ou “tragédia”?
Oi Fátima!! Então, né... esse assunto de gênero parece que está voltando a virar tabu. Entendo essa onda como uma ferramenta de manipulação pseudomoralista que os políticos de direita e ultradireita, pra não dizer fascistas, estão usando pra atrair e cooptar ingênuos ,como se simplesmente negar as questões de gênero fosse resolver e tirar do caminho, aquilo que está mal resolvido dentro de cada um. Abraço
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