segunda-feira, 23 de março de 2020

Diário de uma quarentena


Mesmo já tendo completado uma semana em quarentena, esta é a primeira vez que resolvo escrever sobre tudo isso que estamos passando. Ainda não tinha tido tempo. Sim, é verdade, embora em isolamento, ainda não tinha conseguido parar para refletir ou para escrever – o primeiro ato é sempre necessário para que o segundo aconteça. É fato que nem sempre as pessoas seguem essa sequência. Há quem escreva regularmente, sem nunca refletir.

Apesar de me considerar uma pessoa conectada, sábado passado assisti à minha primeira missa on line. Embora não seja exatamente uma novidade, para mim, sempre foi necessário estar presente na igreja, presenciar ao vivo os ritos religiosos. Cheguei até a criticar intimamente as pessoas que optavam por acompanhar as cerimônias pela televisão. Achava difícil entrar em estado de oração em frente a uma tela. Atualmente, diante da impossibilidade, essa rejeição acabou por completo e pude experimentar uma comunhão espiritual fortalecedora. Recomendo.

Sempre gostei de missas. Acho que herdei esse gosto de minha mãe. Ela me contava que desde muito jovem era a primeira a se levantar em sua casa e ir para a igreja para não perder a primeira missa do dia. Quando eu era pequena, ela me levava para a cidade quando tinha de fazer compras, ir ao médico ou resolver qualquer problema. Antes de voltar para casa era lei assistir a uma das missas na Catedral de Campinas ou na Igreja do Carmo. Ambas são lindíssimas com suas pinturas e imagens sacras. Quando não conseguíamos acertar o horário das cerimônias, ficávamos rezando lá dentro por um bom tempo. Eu não tirava os olhos das imagens dos santos espalhados pelos altares e capelas e analisava cada estátua, cada desenho, em todos os seus detalhes. Eles me inspiravam a buscar a santidade.

No sábado também tive de acompanhar uma pessoa da família e seu filho, de menos de um ano, em consulta em um dos prontos socorros públicos de Campinas. O menino tinha febre e acabou sendo diagnosticado com uma pneumonia atípica (nada relacionado ao Covid-19, felizmente).  Por segurança, fiquei na porta observando e vi mais profissionais de saúde do que pacientes. Ao menos ali as pessoas estavam respeitando a determinação de só circular em casos de extrema necessidade.

Aparentemente o mesmo respeito às determinações sanitárias não aconteceu nos atacadistas. Passei por um grande com o estacionamento lotado. Evitei fazer compras por todo o final de semana, mas não foi possível evitar a ida à farmácia, à padaria e a um hortifruti, compras que procurei fazer em tempo recorde.

Vi também alguns bares e adegas com aglomerações de jovens, aqueles que ainda não acreditam na necessidade de isolamento. Como a partir desta semana os estabelecimentos serão fechados por decreto, quem sabe essas pessoas se vejam obrigadas a cair na real.

A vinda de Campinas para Guarulhos foi tranquila. O movimento de carros estava realmente bem abaixo do normal.

Optei por me isolar aqui, em meu apartamento de segunda a quinta. Desta forma poderei produzir meus textos, tocar um trabalho iniciado até onde for possível, acompanhar os trâmites para publicação impressa de meu segundo livro e quem sabe colocar as leituras em dia. A oração também está em minha lista, é claro.

Tenho fé que iremos passar por essa provação e sair dela fortalecidos. Basta que mantenhamos a cabeça ocupada e a preenchamos com bons pensamentos. Que nos mantenhamos informados, pelas vias oficiais, de preferência. Que consumamos ou compartilhemos menos vídeos catastróficos e mais mensagens positivas. Que nos preocupemos mais com os outros, que pensemos em como podemos ajudar e façamos o que estiver ao nosso alcance para o bem comum. Que as rivalidades desapareçam, ou que ao menos sejam atenuadas, que haja entendimento e compreensão. Que haja união e respeito. E que Deus nos ajude.

Uma boa semana!