domingo, 2 de julho de 2023

VANGUARDAS: A ESTÉTICA DA RUPTURA

 


Quando o termo vanguarda (do francês, avant-gard), o que marcha na frente, portanto, de origem militar, foi associado às artes, no início do século XX, foi para identificar aqueles que “marchavam” na frente, que iam abrindo caminhos, a partir de uma ruptura de conceitos, dogmas, formas, linguagens etc.

Entretanto, se formos analisar em termos de ruptura, podemos dizer que uma das mais importantes é de bem antes, a partir do Renascimento, em que há um rompimento com o teocentrismo e a adoção do antropocentrismo, passando o homem a ser o centro do universo.

Na pintura e na escultura começa-se a se preocupar com a escala, com a profundidade, com os detalhes, uma busca pela perfeição. Depois com o Impressionismo já se abandona a necessidade de um quadro imitar a realidade. Passa-se a valorizar mais o Sol, que revela as cores.

Outro período importante de ruptura veio pelo Romantismo, não aquele ao qual nos remete a palavra, entre duas pessoas, mas aquele diretamente relacionado a grandes revoluções sociais, à revolução francesa e todo o conceito de liberdade, igualdade e fraternidade.

Na literatura, o Simbolismo é o primeiro movimento que começa a romper com a lógica, a abandonar o pensamento científico europeu.

E é de rompimento em rompimento que vamos vendo o desenrolar dos movimentos de vanguarda, Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo. Se pensarmos na pintura abstrata do Modernismo, a poesia visual, a literatura Beatnik, a psicodelia, o Tropicalismo, tudo isso chegou para se opor a algo anterior, para fazer diferente do que vinha sendo feito.

Sem a pretensão de rever aqui em detalhes todos os movimentos classificados como de vanguarda e suas características relacionadas a rupturas, a principal proposta do encontro foi a de tentar detectar algum movimento da atualidade que tenha as mesmas características vanguardistas.

Depois de tanta fragmentação, da modernidade líquida de Bauman, talvez não haja mais o que romper, o que dissolver, numa época em que tudo é líquido e volátil. Talvez seja um movimento de surgimento, de criação e não de quebra de algo já existente.

Na tentativa de apontar obras mais recentes como trabalhos de vanguarda (ou os que mais se aproximam do conceito de ruptura que caracteriza a vanguarda), tivemos dificuldades de fazê-lo na literatura, mas chegamos a filmes como "Matrix", "Show de Truman" e "Dogville", que trataram de temas relacionados à interferência do mundo virtual em nossa suposta realidade. Os diretores conseguiram na época algo novo ali... "Dogville", por sua vez, desafiou por fazer um filme com a linguagem do teatro mesclada com a da própria literatura. Sem uma análise profunda, não podemos afirmar que foram os primeiros a fazer isso, condição que seria necessária para que os considerássemos de vanguarda, mas são, sem dúvida, filmes que ousaram...

E se fôssemos analisar mais a fundo os trabalhos mais atuais, certamente encontraríamos alguns classificados pela crítica como inovadores.  Mas até que ponto?

E você? Tem se deparado com alguma criação literária, seriado, filme, arte em que tenha observado uma ruptura, que possa ser denominada uma “nova vanguarda”?

*texto elaborado com base nas discussões em torno do tema vanguarda no XX Encontro de Escritores e Leitores, dia 30/06/2023, das 19h às 21h, no Centro Britânico, em Guarulhos. Como sempre, a mediação foi de César Magalhaes Borges, com a presença de Rogério Britto, Guilhermina Helfstein, Alba Bela, Janete Brito, Talita Salvador, Valmir de Souza, Luka Magalhaes e Fátima Gilioli.

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