Quando o termo vanguarda (do francês, avant-gard), o que
marcha na frente, portanto, de origem militar, foi associado às artes, no
início do século XX, foi para identificar aqueles que “marchavam” na frente,
que iam abrindo caminhos, a partir de uma ruptura de conceitos, dogmas, formas,
linguagens etc.
Entretanto, se formos analisar em termos de ruptura, podemos
dizer que uma das mais importantes é de bem antes, a partir do Renascimento, em
que há um rompimento com o teocentrismo e a adoção do antropocentrismo, passando
o homem a ser o centro do universo.
Na pintura e na escultura começa-se a se preocupar com a escala, com a profundidade, com os detalhes, uma busca pela perfeição. Depois com o Impressionismo já se abandona a necessidade de um quadro imitar a realidade. Passa-se a valorizar mais o Sol, que revela as cores.
Outro período importante de ruptura veio pelo Romantismo, não
aquele ao qual nos remete a palavra, entre duas pessoas, mas aquele diretamente relacionado
a grandes revoluções sociais, à revolução francesa e todo o conceito de
liberdade, igualdade e fraternidade.
Na literatura, o Simbolismo é o primeiro movimento que começa a romper com a lógica, a abandonar o pensamento científico europeu.
E é de rompimento em rompimento que vamos vendo o desenrolar
dos movimentos de vanguarda, Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo,
Surrealismo. Se pensarmos na pintura abstrata do Modernismo, a poesia visual, a
literatura Beatnik, a psicodelia, o Tropicalismo, tudo isso chegou para se opor
a algo anterior, para fazer diferente do que vinha sendo feito.
Sem a pretensão de rever aqui em detalhes todos os
movimentos classificados como de vanguarda e suas características relacionadas a
rupturas, a principal proposta do encontro foi a de tentar detectar algum
movimento da atualidade que tenha as mesmas características vanguardistas.
Depois de tanta fragmentação, da modernidade líquida de Bauman,
talvez não haja mais o que romper, o que dissolver, numa época em que tudo é
líquido e volátil. Talvez seja um movimento de surgimento, de criação e não de quebra
de algo já existente.
Na tentativa de apontar obras mais recentes como trabalhos de
vanguarda (ou os que mais se aproximam do conceito de ruptura que caracteriza a
vanguarda), tivemos dificuldades de fazê-lo na literatura, mas chegamos a
filmes como "Matrix", "Show de Truman" e
"Dogville", que trataram de temas relacionados à interferência do
mundo virtual em nossa suposta realidade. Os diretores conseguiram na época
algo novo ali... "Dogville", por sua vez, desafiou por fazer um filme
com a linguagem do teatro mesclada com a da própria literatura. Sem uma análise
profunda, não podemos afirmar que foram os primeiros a fazer isso, condição que
seria necessária para que os considerássemos de vanguarda, mas são, sem dúvida,
filmes que ousaram...
E se fôssemos analisar mais a fundo os trabalhos mais atuais,
certamente encontraríamos alguns classificados pela crítica como inovadores. Mas até que ponto?
E você? Tem se deparado com alguma criação literária, seriado,
filme, arte em que tenha observado uma ruptura, que possa ser denominada
uma “nova vanguarda”?
*texto
elaborado com base nas discussões em torno do tema vanguarda no XX Encontro de
Escritores e Leitores, dia 30/06/2023, das 19h às 21h, no Centro Britânico, em
Guarulhos. Como sempre, a mediação foi de César
Magalhaes Borges, com a presença de Rogério Britto, Guilhermina Helfstein,
Alba Bela, Janete Brito, Talita Salvador, Valmir de Souza, Luka Magalhaes e Fátima
Gilioli.
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