quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Cartas digitalizadas


Está em teste na Alemanha um serviço que digitaliza cartas e as envia a seu destinatário por e-mail. Para isso a pessoa ou empresa que contratar o serviço pagará uma mensalidade de aproximadamente 100 reais.

Acabei de ler a matéria na Folha de SP com um misto de melancolia e inquietação. Há muito me entristeço com o fato do avanço tecnológico nos ter afastado da magia de enviar e receber cartas, embora tenha a noção de ser esse um fato inevitável e útil para a saúde de nossas árvores, constantemente ameaçadas por um ritmo de extração desenfreada.

A verdade é que acabei substituindo o hábito de escrevê-las em papel e despachá-las em envelopes pela rápida digitação na tela de um computador ou do celular, através dos aplicativos de mensagens com disparo e recebimento praticamente imediatos. Seja qual for o motivo, pessoal ou comercial.

Também é fato que há muito, o que a maioria das pessoas e empresas recebem pelo correio nos dias de hoje são contas para pagar, cobranças ou ofertas muitas vezes indesejadas. Apesar de vivermos na era das contas digitalizadas, como já escrevi em artigo anterior, ainda restam muitos desses papeis circulando por aí inutilmente. Grandes empresas fazem hoje seus pagamentos através de transferências bancárias, tanto para contas nacionais como ao exterior, mas, continuam a receber via correio uma quantidade infinita de envelopes com faturas  que muitas vezes nem abertos vão para uma caixa de arquivo morto ou para reciclagem.

É claro que sempre poderá chegar pelo correio um surpreendente resultado de um concurso, uma notificação de um processo, o resultado de uma proposta de trabalho ou de prestação de serviços, um comunicado importante e até uma carta de um amigo, por que não? Só que tudo isso pode ser feito através da internet em muito menos tempo e mão de obra.

Desconfio do sucesso dessa “novidade” de digitalização de correspondência, que talvez atenda às necessidades internas dos alemães, mas, que para o mundo  pouco tenha a acrescentar. Ainda se substituísse realmente o envio da carta fisicamente, poderia trazer algum ganho impedindo que o envelope tivesse que circular pelas agências de triagem e ser encaminhado ao endereço físico, mas, não, isso continuará a acontecer após a digitalização. Se o destinatário já estiver ciente do conteúdo, o que o impelirá a abrir o envelope? Resultado: mais papel inútil para reciclagem.

Finalmente resta a questão do sigilo de correspondência. O próprio correio alemão já antecipa que não há como eliminar o risco do conteúdo se tornar conhecido. Quem se habilita a se expor dessa maneira e ainda pagar por isso?




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