Muitas vezes é difícil para um autor cortar ou modificar trechos de sua obra, seja ela em prosa ou poesia. Sabemos que essa providência quase sempre é necessária, mas raramente encontram-se editores capacitados ou propensos a fazer esse papel, como o que no filme “O mestre dos Gênios”, o personagem da década de 20, Max Perkins, executa brilhantemente. Infelizmente, na maioria das vezes, sugestões são dadas apenas com interesses mercadológicos e não exatamente para melhorar a criação. Desta forma, o próprio autor precisa aprender a editar sua escrita. Precisa saber cortar, saber corrigir, saber ordenar, saber acrescentar e além de tudo saber quando parar.
Algumas modalidades artísticas tratam a edição com mais
naturalidade. O cinema parte da gravação de um extenso número de cenas para
chegar a um produto final de exibição de alguns minutos, ou de no máximo uma a
duas horas. Na pintura, há vários artistas que recriam telas ou ocultam imagens
que não os agradaram através de técnicas de sobreposição. Sabe-se, por exemplo,
que sob a Mona Lisa, há outro quadro, certamente não aprovado por Leonardo da
Vinci. Vincent van Gogh também deixou em suas cartas ao irmão afirmações de que
havia repintado determinadas telas, cujo resultado desejado não havia sido
alcançado logo de início. Na música, um caso de edição pode ser visto com John
Lennon, que compôs primeiramente a canção “Child Of Nature” e depois, com a
mesma melodia, gravou “Jealous Guy”, de letra completamente diferente da
primeira. Quem conhece Bob Dylan sabe que ele altera suas letras a cada show,
quase que impedindo os fãs de acompanhá-lo em suas canções.
O poeta romântico Walt Whitman lançou em 1855 um livro
chamado “Folhas da Relva” com doze poemas. Reeditou esse livro nove vezes até
que em 1892, a nona edição tinha mais de 400 poemas, que provavelmente foram
sendo acrescidos em função de seus conceitos similares. Também é possível notar
pequenas alterações em versos das primeiras peças. Existem histórias que dizem
que Drummond chegava a reescrever o mesmo poema umas setenta vezes.
Podemos pensar que enquanto o autor está vivo, sua obra está
aberta e que, portanto, está sujeita a modificações. Mesmo depois que ele se
vai, dependendo de seus familiares ou de quem detenha os direitos de seu
espolio, ainda poderão acontecer edições em obras já publicadas ou inéditas,
como acontecem nas coletâneas póstumas, por exemplo.
Além do próprio conteúdo da prosa ou verso, como já dito,
faz parte também do processo de edição a seleção dos poemas que irão compor uma
publicação, a ordem de disposição desses poemas no livro, no caso de prosa a
ordem dos capítulos, a capa, as ilustrações, a diagramação, a encadernação etc.
Atualmente há autores que gostam de se dedicar ao trabalho por completo,
participando de todas essas etapas. Outros, porém, a partir de sua obra
considerada pronta, delegam a execução dessas outras etapas a profissionais da
edição.
Já quando se trata de livro reportagem é trabalho do
jornalista editar todo o conteúdo de suas entrevistas e suas pesquisas a
respeito do tema escolhido, para decidir o que irá compor seu trabalho, de que
forma e em que sequência, com o cuidado de manter as falas do entrevistado, de
evitar repetições e de completar a história que quer contar. Além disso, quando
o profissional se aventura no jornalismo literário, nas crônicas e mesmo na
ficção, normalmente se deparará com o dilema de seguir ou não seu superego, de
ser ou não ser criativo, de se permitir ultrapassar os limites das regras da
escrita jornalística formal.
Finalizo com a primorosa definição de César Magalhães
Borges, que se diz orgulhoso de ser um escritor amador, por fazer aquilo que
ama e por amar tudo o que faz.
Obs.: Reflexões resultadas do nosso XI Encontro de
Escritores e Leitores, evento virtual realizado em 15/05/2021, pelo Google
Meet.
#literatura #arte #autor #escrita #poesia #música #cinema
Ótimo texto, abordou de forma ímpar as reflexões do "Encontro". Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Alba. Se acha isso, fico feliz!
ExcluirUm encontro que dispensou edição. Parabéns pelo texto, Fátima!
ResponderExcluirVerdade. Obrigada!
ExcluirÉ difícil fazer uma síntese de tantas falas ricas que se somaram... Parabéns, Fátima!
ResponderExcluirObrigada, César. Então fico feliz por ter conseguido.
ExcluirO encontro é bom, mas essa resenha é primorosa, Fátima. Eu não lembro de tudo que foi falado no encontro e quando chego aqui que lembro o quanto foi rico. Parabéns!
ResponderExcluirFico feliz que tenha aprovado, Rogério. Muito obrigada!
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